Ogata Korin - Revista Universo

Arte

Ogata Korin

Ogata Korin, cujo nome original era Ogata Koretomi (também conhecido como Ogata Ichinojo), nasceu em 1658, em Kyoto, no Japão, em pleno Período Tokugawa (1603 – 1868). Fato curioso é que ele nasceu exatamente cem anos depois de Koetsu (1558 – 1637), que, juntamente com Sotatsu, é creditado como o fundador da Escola Rinpa, cujo estilo decorativo ficou famoso por incluir o uso de cores brilhantes e ouro.

O avô de Korin adquirira consideráveis meios de fortuna como fornecedor de sedas da corte imperial, sob o comando da Imperatriz Tofukomon´in, e Korin não precisou preocupar-se em ganhar a vida. A loja de seu avô e de seu pai chamava-se Kariganeya.

Interessante é notar que o bisavô de Korin, Sohaku, era casado com a irmã mais velha de Koetsu, e a família Ogata tinha uma residência em Takagamine, uma colônia da arte estabelecida nos subúrbios de Kyoto por Koetsu. O pai de Korin, Soken, era um realizado calígrafo da escola de Koetsu, e também um amante do drama Nô. Portanto, Korin e seu irmão Kenzan cresceram rodeados pelos trabalhos de Sotatsu e Koetsu.

Embora os dois irmãos tenham recebido uma grande herança de seu pai, o extravagante e socialmente dinâmico Koetsu ficou logo num impasse econômico e foi impelido a ganhar a vida pela produção de pinturas e trabalhos em laca. Sabe-se que em 1701 ele alcançou o grau de hokkyo (título fornecido a quem alcançasse um alto grau em determinada especialidade) , indicando que ele estava ativo como um pintor completamente desenvolvido nesta época. Depois disso, virtualmente todos os seus trabalhos passaram a levar a assinatura Hokkyo Korin . Muitos dos seus trabalhos que sobreviveram até hoje são desta época ou posteriores. Nesta época, Kenzan estabeleceu um ateliê em Naruaki e começou a produzir cerâmicas lá. Os dois irmãos Ogata freqüentaram a casa da família e produziram seus trabalhos de arte dentro do contexto da tradicional elite cultural de Kyoto. Ao mesmo tempo, durante este período, conhecido como Era Genroku (1688 – 1704), uma economia livre estava crescendo e originando uma extravagante cultura Samurai sob os auspícios do 5º shogun Tsunayoshi. Korin foi pra Edo em 1704 e serviu uma família daimio , mas aparentemente ele não se encaixou muito bem dentro do contexto da cultura samurai e retornou a Kyoto.

Como quase nenhum dos seus trabalhos traz uma data, é difícil determinar a cronologia de sua obra, mas parece que todos os seus trabalhos importantes foram produzidos no período de 20 anos a contar de 1697. Esses anos podem ser divididos em 3 partes: o período Kyoto de formação, de 1697 a 1703, quando ele ganhou reconhecimento como artista; o período de 1704 a 1710, quando ele morou em Edo (atual Tokyo), e os anos de 1711 a 1716, seus últimos anos de vida, quando ele atingiu seu clímax artístico.

Korin estudou sob a orientação de Soken Yamamoto, Kano, Tsunenobu e Gukei Sumiyoshi. Soken era membro da oficialmente reconhecida escola de Kano, e era hábil nas pinturas tanto do estilo chinês quanto na escola Tosa, que empregava tema japoneses e um estilo decorativo colorido.

Embora tivesse encontrado proteções e amigos na aristocracia, era considerado, em virtude dos seus hábitos excêntricos e da sua riqueza, um esnobe, algo no gênero de um Oscar Wilde. Ele não era casado até 1697, já com quase 40 anos. Esse comportamento pode ser ilustrado por uma história de um piquenique que Korin fez com seus amigos em Arashyama, subúrbio de Kyoto. Tendo cada um dos participantes exibido suas esplêndidas louças, Korin garantiu o clímax da festa envolvendo sua comida em folhas de bambu decoradas a ouro. Quando o artista acabou sua refeição, ele lançou as referidas folhas no rio, uma ação pela qual ele foi banido de Kyoto por um período, porque havia uma lei em Kyoto que proibia o uso de ouro e prata entre as pessoas comuns. Por causa de extravagâncias como essa, Korin perdeu a fortuna que tinha herdado e passou a se sustentar através da arte.

Entretanto, o caso de Korin levanta um interessante problema: o que acontece a um esnobe possuidor de qualidades excepcionais? Korin começou por repensar tudo o que o rodeava, a fim de fazer disso uma obra de arte, e com esta intenção escolheu cores não-habituais ou mesmo chocantes. Ainda hoje se mostra em Kyoto a pequena sala onde se efetuavam as suas cerimônias do chá, que, para ele, como para quase todos os seus contemporâneos, eram a ocupação estética por excelência. Mas esta sala é, sem dúvida, a única no Japão pintada de negro. Korin também criou cerâmicas e fez desenhos para seu irmão Kenzan, mais célebre como ceramista do que como pintor; aliás, por vezes, pintava também algumas das suas cerâmicas.

Korin trabalhou igualmente a laca, e as suas normas criaram escola, a tal ponto que é difícil saber quais são as peças que provêm da sua mão. Mas parece ter-se apaixonado de tal forma por esta arte que não receou assumir todas as dificuldades do ofício de laquista. Pintou os kimonos de uma família amiga, contando-se hoje estas vestes entre as obras-primas da pintura japonesa. Antes de mais nada, era pintor – um pintor muito pessoal, se bem que não hesitasse em copiar fielmente várias obras de Sotatsu, cuja técnica apreciava acima de tudo. Os críticos japoneses pensam que a diferença existente entre as duas técnicas tem origem no fato de Sotatsu pintar mantendo o pincel perpendicular, ao passo que Korin o segurava oblíquo. Sabia ainda dar à sua pintura um brilho mate semelhante ao nácar. Korin estimava, principalmente, como Sotatsu, os modelos da escola de Yamato-ê, dos séculos XII e XIII.

Duas das pinturas mais famosas representam cenas do Ise Monogatari. Numa delas, o príncipe Narihira, no decurso de uma viagem, está sentado ao lado da Ponte de Oito Caminhos, à beira de um pântano com flores e íris. Tanto ele como os amigos sentem saudades da pátria, e o príncipe experimenta o desejo de ver novamente a bem-amada distante. A história, como sempre, termina com um poema. Todas as linhas do desenho de Korin são cheias de espírito e de uma composição seca e nítida como a Casa da Fronteira de Sotatsu.

A diferença entre a pintura de Korin e a de Sotatsu, abstraindo da maneira de segurar o pincel, consiste principalmente na cor. Korin procura, igualmente, vigorosos e luminosos contrastes e não hesita em chocar com a tradição. Seria absolutamente errôneo supor Korin um simples imitador que tivesse sintetizado as técnicas de Sotatsu e de Koetsu, no estilo do seu tempo. De qualquer modo, para agir como ele, era preciso ter um estilo que pudesse formar-se independentemente da moda.

Korin utiliza os tons quentes. Não que evite as cores frias; mas estas não lhe agradam. As tonalidades ordenam-se num acordo pleno e substancial, que talvez não fosse conhecido ou estimado nas alturas de 1600, mas que marcou o estilo dos anos à volta de 1700 e lhe deu a plenitude e a força.

A característica principal deste estilo único de Korin é o que podemos chamar de um “Impressionismo de realce”, que é expressado com poucas e simples formas altamente idealizadas, com uma absoluta negligência do realismo ou das convenções usuais. Na laca, o uso de Korin de metais brancos e de madrepérola é notável.

Korin morreu com 59 anos. Seus principais discípulos são Kagei Tatebayashi e Shiko Watanabe, mas o atual conhecimento e apreciação de seu trabalho devem-se principalmente aos esforços de Hoitsu Sakai, que trouxe um renascimento do estilo de Korin.

Ao querer ser diferente dos outros, Korin realizou em segredo os desejos de todos: deu o tom à arte do seu tempo.

Ogata Korin, cujo nome original era Ogata Koretomi (também conhecido como Ogata Ichinojo), nasceu em 1658, em Kyoto, no Japão, em pleno Período Tokugawa (1603 – 1868). Fato curioso é que ele nasceu exatamente cem anos depois de Koetsu (1558 – 1637), que, juntamente com Sotatsu, é creditado como o fundador da Escola Rinpa, cujo estilo decorativo ficou famoso por incluir o uso de cores brilhantes e ouro.

O avô de Korin adquirira consideráveis meios de fortuna como fornecedor de sedas da corte imperial, sob o comando da Imperatriz Tofukomon´in, e Korin não precisou preocupar-se em ganhar a vida. A loja de seu avô e de seu pai chamava-se Kariganeya.

Interessante é notar que o bisavô de Korin, Sohaku, era casado com a irmã mais velha de Koetsu, e a família Ogata tinha uma residência em Takagamine, uma colônia da arte estabelecida nos subúrbios de Kyoto por Koetsu. O pai de Korin, Soken, era um realizado calígrafo da escola de Koetsu, e também um amante do drama Nô. Portanto, Korin e seu irmão Kenzan cresceram rodeados pelos trabalhos de Sotatsu e Koetsu.

Embora os dois irmãos tenham recebido uma grande herança de seu pai, o extravagante e socialmente dinâmico Koetsu ficou logo num impasse econômico e foi impelido a ganhar a vida pela produção de pinturas e trabalhos em laca. Sabe-se que em 1701 ele alcançou o grau de hokkyo (título fornecido a quem alcançasse um alto grau em determinada especialidade) , indicando que ele estava ativo como um pintor completamente desenvolvido nesta época. Depois disso, virtualmente todos os seus trabalhos passaram a levar a assinatura Hokkyo Korin . Muitos dos seus trabalhos que sobreviveram até hoje são desta época ou posteriores. Nesta época, Kenzan estabeleceu um ateliê em Naruaki e começou a produzir cerâmicas lá. Os dois irmãos Ogata freqüentaram a casa da família e produziram seus trabalhos de arte dentro do contexto da tradicional elite cultural de Kyoto. Ao mesmo tempo, durante este período, conhecido como Era Genroku (1688 – 1704), uma economia livre estava crescendo e originando uma extravagante cultura Samurai sob os auspícios do 5º shogun Tsunayoshi. Korin foi pra Edo em 1704 e serviu uma família daimio , mas aparentemente ele não se encaixou muito bem dentro do contexto da cultura samurai e retornou a Kyoto.

Como quase nenhum dos seus trabalhos traz uma data, é difícil determinar a cronologia de sua obra, mas parece que todos os seus trabalhos importantes foram produzidos no período de 20 anos a contar de 1697. Esses anos podem ser divididos em 3 partes: o período Kyoto de formação, de 1697 a 1703, quando ele ganhou reconhecimento como artista; o período de 1704 a 1710, quando ele morou em Edo (atual Tokyo), e os anos de 1711 a 1716, seus últimos anos de vida, quando ele atingiu seu clímax artístico.

Korin estudou sob a orientação de Soken Yamamoto, Kano, Tsunenobu e Gukei Sumiyoshi. Soken era membro da oficialmente reconhecida escola de Kano, e era hábil nas pinturas tanto do estilo chinês quanto na escola Tosa, que empregava tema japoneses e um estilo decorativo colorido.

Embora tivesse encontrado proteções e amigos na aristocracia, era considerado, em virtude dos seus hábitos excêntricos e da sua riqueza, um esnobe, algo no gênero de um Oscar Wilde. Ele não era casado até 1697, já com quase 40 anos. Esse comportamento pode ser ilustrado por uma história de um piquenique que Korin fez com seus amigos em Arashyama, subúrbio de Kyoto. Tendo cada um dos participantes exibido suas esplêndidas louças, Korin garantiu o clímax da festa envolvendo sua comida em folhas de bambu decoradas a ouro. Quando o artista acabou sua refeição, ele lançou as referidas folhas no rio, uma ação pela qual ele foi banido de Kyoto por um período, porque havia uma lei em Kyoto que proibia o uso de ouro e prata entre as pessoas comuns. Por causa de extravagâncias como essa, Korin perdeu a fortuna que tinha herdado e passou a se sustentar através da arte.

Entretanto, o caso de Korin levanta um interessante problema: o que acontece a um esnobe possuidor de qualidades excepcionais? Korin começou por repensar tudo o que o rodeava, a fim de fazer disso uma obra de arte, e com esta intenção escolheu cores não-habituais ou mesmo chocantes. Ainda hoje se mostra em Kyoto a pequena sala onde se efetuavam as suas cerimônias do chá, que, para ele, como para quase todos os seus contemporâneos, eram a ocupação estética por excelência. Mas esta sala é, sem dúvida, a única no Japão pintada de negro. Korin também criou cerâmicas e fez desenhos para seu irmão Kenzan, mais célebre como ceramista do que como pintor; aliás, por vezes, pintava também algumas das suas cerâmicas.

Korin trabalhou igualmente a laca, e as suas normas criaram escola, a tal ponto que é difícil saber quais são as peças que provêm da sua mão. Mas parece ter-se apaixonado de tal forma por esta arte que não receou assumir todas as dificuldades do ofício de laquista. Pintou os kimonos de uma família amiga, contando-se hoje estas vestes entre as obras-primas da pintura japonesa. Antes de mais nada, era pintor – um pintor muito pessoal, se bem que não hesitasse em copiar fielmente várias obras de Sotatsu, cuja técnica apreciava acima de tudo. Os críticos japoneses pensam que a diferença existente entre as duas técnicas tem origem no fato de Sotatsu pintar mantendo o pincel perpendicular, ao passo que Korin o segurava oblíquo. Sabia ainda dar à sua pintura um brilho mate semelhante ao nácar. Korin estimava, principalmente, como Sotatsu, os modelos da escola de Yamato-ê, dos séculos XII e XIII.

Duas das pinturas mais famosas representam cenas do Ise Monogatari. Numa delas, o príncipe Narihira, no decurso de uma viagem, está sentado ao lado da Ponte de Oito Caminhos, à beira de um pântano com flores e íris. Tanto ele como os amigos sentem saudades da pátria, e o príncipe experimenta o desejo de ver novamente a bem-amada distante. A história, como sempre, termina com um poema. Todas as linhas do desenho de Korin são cheias de espírito e de uma composição seca e nítida como a Casa da Fronteira de Sotatsu.

A diferença entre a pintura de Korin e a de Sotatsu, abstraindo da maneira de segurar o pincel, consiste principalmente na cor. Korin procura, igualmente, vigorosos e luminosos contrastes e não hesita em chocar com a tradição. Seria absolutamente errôneo supor Korin um simples imitador que tivesse sintetizado as técnicas de Sotatsu e de Koetsu, no estilo do seu tempo. De qualquer modo, para agir como ele, era preciso ter um estilo que pudesse formar-se independentemente da moda.

Korin utiliza os tons quentes. Não que evite as cores frias; mas estas não lhe agradam. As tonalidades ordenam-se num acordo pleno e substancial, que talvez não fosse conhecido ou estimado nas alturas de 1600, mas que marcou o estilo dos anos à volta de 1700 e lhe deu a plenitude e a força.

A característica principal deste estilo único de Korin é o que podemos chamar de um “Impressionismo de realce”, que é expressado com poucas e simples formas altamente idealizadas, com uma absoluta negligência do realismo ou das convenções usuais. Na laca, o uso de Korin de metais brancos e de madrepérola é notável.

Korin morreu com 59 anos. Seus principais discípulos são Kagei Tatebayashi e Shiko Watanabe, mas o atual conhecimento e apreciação de seu trabalho devem-se principalmente aos esforços de Hoitsu Sakai, que trouxe um renascimento do estilo de Korin.

Ao querer ser diferente dos outros, Korin realizou em segredo os desejos de todos: deu o tom à arte do seu tempo.

Ensinamento de Okada Jinsai

Ogata Korin

Desde a minha juventude, sempre gostei demais de Pintura. E, indiscutivelmente, o meu pintor preferido é, independente de época, aquele famoso Korin. Dentre os artistas da escola Korin, tanto Koetsu, como Sotatsu, Koho e Kenzan têm, cada um deles, o seu sabor; todavia, Korin distingue-se, decididamente, por sua superioridade. Sua pintura, sendo concisa, logra captar a imagem real do objeto, fato que a torna ímpar. Desconsiderando completamente a forma das coisas, ele a expressa com fidelidade. Isso é idêntico à energia do poema japonês de trinta e uma sílabas que pode comover o homem, quando este não se convenceria ainda que com o emprego de milhões de palavras. O que mais me assombra é que até então a pintura nipônica esteve presa às formas legadas da China, e Korin ousadamente rompeu com essa tradição. Ou seja, ele acabou com o método da utilização da linha, substituindo por outro que prescinde dela, e renasceu para um estilo próximo do desenho esquemático. Resumindo, foi a sua ousadia em criar um método revolucionário de desenho, em oposição ao método tradicional que estava preso a determinados cânones.

Hoje, passados duzentos e algumas dezenas de anos depois do passamento de Korin, sua façanha provocou uma revolução nos círculos pictóricos da Era Meiji. Acerca disso, tenho o seguinte episódio a relatar. Trinta anos atrás, o mestre Tenshin Okakura, fazendo-se acompanhar de quatro pintores — Taikan, Shunso, Kanzan e Buzan — retirou-se para Izura, no antigo feudo de Hitachi. Naquela época, em virtude de certa circunstância, consegui entrevistar-me com o mestre Tenshin. Ele revelou-me, entre outras coisas, os seus futuros projetos com relação à Pintura japonesa. Tal contato foi-me por demais proveitoso e, na oportunidade, também tomei conhecimento do caráter invulgar do mestre. Naquele dia, varei a noite a confabular com os dois pintores Kanzan Shimomura e Buzan Kimura. O mestre Kanzan confessou-me então: “A intenção do mestre Tenshin, ao fundar o Instituto de Artes, foi de reabilitar Korin na atualidade. Por isso, nós não fazemos uso da linha propositadamente. Hoje, a sociedade faz pouco caso de nossa pintura, apelidando-nos de escola da opacidade. Há de vir, porém, um dia em que haveremos de ser reconhecidos, infalivelmente”. Justamente como ele afirmou e é do conhecimento geral, pouco tempo depois, o estilo do grupo do Instituto de Belas-Artes passou a dominar o mundo japonês da pintura, fazendo a revolução desta. O mestre Kanzan tecera, ainda, algumas considerações, nesse sentido. A pintura, no Ocidente, em virtude do extremo a que atingira a escola realista, tendo passado a competir com a fotografia, ao enveredar pelas sendas do pormenor, chegara a tal ponto que exaurira, totalmente, as suas possibilidades. Quando todos os esforços visavam a desvendar um caminho que levasse a uma grande mudança, alguém, na França, descobriu Korin. Pode-se imaginar com facilidade a surpresa e a admiração experimentadas perante o rumo tomado pela pintura de Korin, completamente inverso ao do realismo elaborado. Como era de se esperar, nasceu o desenho do estilo art nouveau, apareceu o movimento pré-impressionista, e, finalmente, nasceram os grandes gênios da escola pós-impressionista, como Van Gogh, Gauguin, Cèzanne e outros. E não foi somente tal o acontecido: a descoberta provocou uma revolução em todos os ramos das Belas-Artes e do Artesanato, atingindo até a Arquitetura. Como todos sabem, os estilos grego e romano vigentes, até então, passaram por uma imensa mudança graças ao secionismo; o estilo renascentista recolheu-se e daí brotou o estilo arquitetônico moderno. É inegável que o estilo que atualmente prevalece no mundo inteiro, criado pelo francês Le Corbusier, de extrema simplicidade, recebeu no fundo a influência de Korin.

Creio que não é exagero afirmar que o japonês Korin, que, alguns séculos após sua morte, subitamente agitou o mundo inteiro, ou melhor, revolucionou um campo da civilização, é o maior orgulho deste país. Até hoje, não houve um japonês cuja obra lograsse revolucionar um setor mundial. Somos obrigados a afirmar que Korin foi o único.

Ensaios, 30 de agosto de 1949

Desde a minha juventude, sempre gostei demais de Pintura. E, indiscutivelmente, o meu pintor preferido é, independente de época, aquele famoso Korin. Dentre os artistas da escola Korin, tanto Koetsu, como Sotatsu, Koho e Kenzan têm, cada um deles, o seu sabor; todavia, Korin distingue-se, decididamente, por sua superioridade. Sua pintura, sendo concisa, logra captar a imagem real do objeto, fato que a torna ímpar. Desconsiderando completamente a forma das coisas, ele a expressa com fidelidade. Isso é idêntico à energia do poema japonês de trinta e uma sílabas que pode comover o homem, quando este não se convenceria ainda que com o emprego de milhões de palavras. O que mais me assombra é que até então a pintura nipônica esteve presa às formas legadas da China, e Korin ousadamente rompeu com essa tradição. Ou seja, ele acabou com o método da utilização da linha, substituindo por outro que prescinde dela, e renasceu para um estilo próximo do desenho esquemático. Resumindo, foi a sua ousadia em criar um método revolucionário de desenho, em oposição ao método tradicional que estava preso a determinados cânones.

Hoje, passados duzentos e algumas dezenas de anos depois do passamento de Korin, sua façanha provocou uma revolução nos círculos pictóricos da Era Meiji. Acerca disso, tenho o seguinte episódio a relatar. Trinta anos atrás, o mestre Tenshin Okakura, fazendo-se acompanhar de quatro pintores — Taikan, Shunso, Kanzan e Buzan — retirou-se para Izura, no antigo feudo de Hitachi. Naquela época, em virtude de certa circunstância, consegui entrevistar-me com o mestre Tenshin. Ele revelou-me, entre outras coisas, os seus futuros projetos com relação à Pintura japonesa. Tal contato foi-me por demais proveitoso e, na oportunidade, também tomei conhecimento do caráter invulgar do mestre. Naquele dia, varei a noite a confabular com os dois pintores Kanzan Shimomura e Buzan Kimura. O mestre Kanzan confessou-me então: “A intenção do mestre Tenshin, ao fundar o Instituto de Artes, foi de reabilitar Korin na atualidade. Por isso, nós não fazemos uso da linha propositadamente. Hoje, a sociedade faz pouco caso de nossa pintura, apelidando-nos de escola da opacidade. Há de vir, porém, um dia em que haveremos de ser reconhecidos, infalivelmente”. Justamente como ele afirmou e é do conhecimento geral, pouco tempo depois, o estilo do grupo do Instituto de Belas-Artes passou a dominar o mundo japonês da pintura, fazendo a revolução desta. O mestre Kanzan tecera, ainda, algumas considerações, nesse sentido. A pintura, no Ocidente, em virtude do extremo a que atingira a escola realista, tendo passado a competir com a fotografia, ao enveredar pelas sendas do pormenor, chegara a tal ponto que exaurira, totalmente, as suas possibilidades. Quando todos os esforços visavam a desvendar um caminho que levasse a uma grande mudança, alguém, na França, descobriu Korin. Pode-se imaginar com facilidade a surpresa e a admiração experimentadas perante o rumo tomado pela pintura de Korin, completamente inverso ao do realismo elaborado. Como era de se esperar, nasceu o desenho do estilo art nouveau, apareceu o movimento pré-impressionista, e, finalmente, nasceram os grandes gênios da escola pós-impressionista, como Van Gogh, Gauguin, Cèzanne e outros. E não foi somente tal o acontecido: a descoberta provocou uma revolução em todos os ramos das Belas-Artes e do Artesanato, atingindo até a Arquitetura. Como todos sabem, os estilos grego e romano vigentes, até então, passaram por uma imensa mudança graças ao secionismo; o estilo renascentista recolheu-se e daí brotou o estilo arquitetônico moderno. É inegável que o estilo que atualmente prevalece no mundo inteiro, criado pelo francês Le Corbusier, de extrema simplicidade, recebeu no fundo a influência de Korin.

Creio que não é exagero afirmar que o japonês Korin, que, alguns séculos após sua morte, subitamente agitou o mundo inteiro, ou melhor, revolucionou um campo da civilização, é o maior orgulho deste país. Até hoje, não houve um japonês cuja obra lograsse revolucionar um setor mundial. Somos obrigados a afirmar que Korin foi o único.

Ensaios, 30 de agosto de 1949

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