A Cidade Proibida dos Imperadores Chineses - Revista Universo

Turismo

A Cidade Proibida

A História da Cidade Proibida estende-se por cerca de seis séculos, desempenhando o papel de palácio imperial durante 500 anos, desde a época do Imperador Yongle, terceiro soberano da Dinastia Ming, até ao final da Dinastia Qing, em 1911. Na década de 1920 foi transformado em museu, função que desempenha até à atualidade com o nome de “Palácio Museu”.

O nome comum em português, “a Cidade Proibida”, é a tradução do nome chinês Zijin Cheng (紫禁城), literalmente “Cidade Proibida Púrpura”. Outro nome português de origem semelhante é “Palácio Proibido”. Na língua manchu é chamado de Dabkūri dorgi hoton, que significa literalmente “Cidade Interior em Camadas”.

O nome “Zijin Cheng” é uma denominação imbuída de significado a vários níveis. Zi, ou “Púrpura”, refere-se à Estrela do Norte, a qual antigamente era chamada na China de Estrela Ziwei, e na astrologia chinesa tradicional era a moradia do Imperador Celestial. A região celestial envolvente, as Três Delimitações (em chinês: 紫微垣; em pinyin: Zǐwēiyuán), era o reino do Imperador Celestial e da sua família. A Cidade Proibida, como residência do Imperador terreno, era seu correspondente na Terra. Jin, ou “Proibida”, refere-se ao facto de ninguém poder entrar ou sair do palácio sem a permissão do Imperador. Cheng significa “Cidade Muralhada”.

Atualmente, o lugar é mais conhecido como Gugong (em chinês: 故宫), o que significa “Antigo Palácio”. O museu que se baseia nestes edifícios é conhecido como “Palácio Museu” (em chinês: 故宫博物院; em pinyin: Gùgōng Bówùyùan).

Dinastia Ming – O início da construção

O lugar onde se ergue a Cidade Proibida fazia parte da cidade Imperial de Khanbaliq durante a Dinastia Yuan Mongol. O Imperador Hongwu, da Dinastia Ming, mudou a capital de Pequim, no Norte, para Nanjing, no Sul, e em 1369 ordenou que os palácios mongóis fossem arrasados. O seu filho Zhu Di foi feito Príncipe de Yan, com sede em Pequim. Em 1402, Zhu Di usurpou o trono e tornou-se o Imperador Yongle, fazendo de Pequim uma capital secundária do Império Ming. Em 1406 começou a construção do que viria a ser a Cidade Proibida.

A construção durou quinze anos e empregou o trabalho de 100 mil mestres artesãos e de mais de um milhão de trabalhadores. Os pilares das mais importantes galerias foram feitos com madeira de preciosos Phoebe zhennan (chinês: 楠木, pinyin: nánmù) encontrados nas selvas do Sudoeste da China. Tal feito não se repetiria nos anos seguintes — os grandes pilares que se vêm atualmente foram reconstruídos, usando múltiplas peças de pinheiro, durante a Dinastia Qing. Os vastos terraços e grandes entalhes foram feitos em pedra vinda de pedreiras próximas de Pequim. As peças maiores não puderam ser transportadas convencionalmente. No entanto, foram escavadas cavidades ao longo do caminho, tendo a água transbordado para a estrada no intenso inverno, formando uma camada de gelo. As pedras foram dragadas através do gelo.

Os pisos das galerias principais foram pavimentados com “tijolos dourados” (chinês: 金砖, pinyin: jīnzhuān), feitos com argila de sete condados das prefeituras de Suzhou e Songjiang. Cada lote demorou meses a cozir, resultando em tijolos macios que tocam com um som metálico. A maior parte dos pavimentos interiores que se veem atualmente são os originais, com seis séculos de existência.

O solo escavado durante a construção do fosso foi amontoado a Norte do palácio, criando uma colina artificial, a Colina Jingshan.

Mesmo antes de o palácio ficar completo, Zhu Di mudou-se para Pequim com o pretexto de “passear e caçar” (巡狩): o centro administrativo do império transferiu-se gradualmente de Nanjing para Pequim. Quando o palácio ficou concluído, em 1420, Zhu Di mudou-se para lá e Pequim tornou-se oficialmente a principal capital do império. No entanto, escassos nove meses depois da sua construção, as três galerias principais, incluindo a Sala do Trono, incendiaram-se, sendo reconstruídas apenas vinte e três anos depois.

Entre 1420 e 1644, a Cidade Proibida foi a sede da Dinastia Ming. Em abril de 1644, forças rebeldes lideradas por Li Zicheng capturaram-na, e o Imperador Chongzhen, o último da Dinastia Ming, enforcou-se na Colina de Jingshan. Li Zicheng autoproclamou-se Imperador da Dinastia Shun na Galeria da Eminência Militar. No entanto, Li escapou pouco depois face à combinação das forças manchu e do antigo general Ming Wu Sangui, lançando fogo a partes da Cidade Proibida no processo.

Dinastia Qing

Em outubro, os manchus adquiriram supremacia no Norte da China, e o Príncipe regente Dorgon proclamou a Dinastia Qing como sucessora da Ming. Foi realizada uma cerimônia na Cidade Proibida para proclamar o jovem Imperador Shunzhi como governante de toda a China. Os governantes Qing mantiveram amplamente o esquema do palácio da Dinastia Ming, excetuando os nomes dos principais edifícios. Os nomes da Dinastia Ming favoreciam o carácter ji (em chinês tradicional: 極; em chinês simplificado: 极), o que significava “supremacia” ou “extremismo”, enquanto que os novos nomes Qing davam relevância a nomes que significavam “paz” e “harmonia”; por exemplo, Huangji Dian, a “Galeria da Supremacia Imperial”, foi alterado para Taihe Dian, a “Galeria da Harmonia Suprema”.

Adicionalmente, foram feitas marcas e placas bilíngues em (chinês e manchu) e a principal parte do quarto oficial da Imperatriz, a Galeria da Tranquilidade Terrena, tornou-se um santuário xamanista.

A Cidade Proibida tornou-se, assim, o centro do poder da Dinastia Qing. Em 1860, durante a Segunda Guerra do Ópio, forças anglo-francesas tomaram o controle da Cidade Proibida e ocuparam-na até ao final da guerra. Em 1900, a Imperatriz Tseu-Hi fugiu da Cidade Proibida durante o Levante dos Boxers, deixando-a para ser ocupada pelas forças dos poderes do tratado até ao ano seguinte.

Depois de ser o lar de vinte e quatro Imperadores, catorze da Dinastia Ming e dez da Dinastia Qing, a Cidade Proibida deixou de ser o centro político da China em 1912, com a abdicação de Puyi, o último Imperador da China. No entanto, segundo um acordo assinado entre a Casa Imperial Qing e o novo governo da República da China, foi permitido a Puyi, de fato exigido, viver no interior das paredes da Cidade Proibida. Puyi e a sua família mantiveram o uso do Pátio Interior, enquanto que o Pátio Exterior foi ocupado pelas autoridades republicanas, sendo ali estabelecido, no dia 10 de outubro de 1925, o Museu Palácio na Cidade Proibida. O vasto acervo de tesouros e curiosidades ali alojados foram gradualmente catalogados e colocados em exposição pública.

Pouco depois, no entanto, a invasão japonesa da China ameaçou a segurança destes tesouros nacionais, tendo estes sido retirados da Cidade Proibida. Com início em 1933, importantes artefatos foram empacotados e removidos. Em primeiro lugar foram levados para Nanjing e depois para Xangai. No entanto, as forças imperiais japonesas rapidamente ameaçaram Xangai. O Yuan Executivo decidiu remover as coleções para o remoto oeste. Os artefatos foram divididos em três lotes. Um tomou a rota do Norte em direção a Shaanxi, outra foi embarcada pelo Rio Yangtzé em direção a Sichuan e o último lote foi transportado para o Sul em direção a Guangxi. O avanço da marcha japonesa forçou a uma mudança rápida dos artefatos, de forma a escaparem do bombardeamento e da captura, frequentemente com notícia de apenas algumas horas. No final, todos os lotes chegaram relativamente salvos a Sichuan, onde permaneceram até ao final da guerra.

Entretanto, o exército japonês capturou a Cidade Proibida em Pequim, mas apenas conseguiram remover alguns grandes barris de bronze e alguns canhões. A maior parte destes foram recuperados depois da guerra, em Tianjin.

No final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, os artefatos foram levados para Nanjing e Pequim. De forma notável, nenhum artefato foi danificado ou perdido.

Em 1947, com o Kuomintang, que dominava o governo da China desde 1928, a perder a Guerra Civil Chinesa, Chiang Kai-shek ordenou que os artefatos da Cidade Proibida e do Museu Nacional de Nanjing fossem removidos para Taiwan. No evento, nenhuma das peças foi embarcada de Pequim, mas muitas das melhores coleções armazenadas em Nanjing foram embarcadas para Taiwan, formando atualmente o coração do Palácio Museu Nacional, em Taipei.

Na atualidade

Atualmente, o Palácio Museu é responsável pela preservação e restauro da Cidade Proibida. As construções em altura ao redor da Cidade Proibida estão restringidas. Em 2005, iniciou-se um projeto de restauro de dezesseis anos, para reparar e restaurar todos os edifícios da Cidade Proibida para os seus estados antes de 1912. Este é o maior restauro da Cidade Proibida empreendido nos últimos dois séculos, e envolve o encerramento progressivo das secções da Cidade Proibida para avaliação, reparações e restauro. Também no âmbito do projeto, algumas seções abandonadas ou destruídas serão reconstruídas. Os jardins do “Palácio da Prosperidade Estabelecia”, destruídos num incêndio em 1923, foram reconstruídos em 2005, mas permanecem encerrados ao público. O interior também foi desenhado num estilo diferente, e os edifícios são utilizados por dignitários em visita.

Como arquitetura, a Cidade Proibida é o maior complexo palaciano sobrevivente no mundo, cobrindo uma área de 723.633 m² (0,0007 km², 0,178 acres, ou 0,00028 mi²). É constituído por um retângulo com 961 metros de norte a sul e 753 metros de leste a oeste. Consiste em 980 edifícios sobreviventes com 8.707 seções de salas.

A Cidade Proibida foi desenhada como o centro da antiga cidade muralhada de Pequim. Fica encerrada numa grande área muralhada chamada de “Cidade Imperial”. A Cidade Imperial está, por suas vez, encerrada pela Cidade Interior; para sul desta, fica a Cidade Exterior.

A Cidade Proibida mantém importância no esquema cívico de Pequim. O eixo central Norte-Sul permanece como o eixo central da capital chinesa. Este eixo estende-se para Sul através do Portão Tiananmen até à Praça da Paz Celestial, o centro cerimonial da República Popular da China. Para Norte, o eixo estende-se através das Torres Gulou e Zhonglou (Sino e Tambor), em direção ao portão Yongdingmen.

Religião

A religião era uma parte importante da Corte Imperial. Durante a Dinastia Qing, o Palácio da Harmonia Terrena tornou-se um local de cerimônia xamanista manchu. Ao mesmo tempo, a religião nativa chinesa, o Taoísmo, continuou a ter um papel importante ao longo das Dinastias Ming e Qing. Existiam dois santuários taoístas, um no jardim imperial e outro na área central do Pátio Interior.

Uma forma prevalente de religião no palácio era o Budismo tibetano, ou Lamaísmo. Um número de templos e santuários foi disperso por todo o Pátio Interior. A iconografia budista também proliferou nas decorações interiores de muitos edifícios. Entre estes, o Pavilhão da Chuva e Flores é um dos mais importantes. Este alberga um grande número de estátuas budistas, ícones e mandalas, colocados em arranjos rituais.

Simbolismo

O desenho da Cidade Proibida, do seu esboço geral ao menor detalhe, foi meticulosamente planeado para refletir os princípios filosóficos e religiosos, e sobre todos os simbolismos a majestade do poder Imperial. Entre os mais notáveis exemplos simbólicos incluem-se:

O amarelo, como a cor do Imperador. Desta forma, quase todos os telhados da Cidade Proibida ostentam telhas amarelas vidradas. Existem apenas duas exceções. A biblioteca no Pavilhão da Profundidade Literária (文渊阁) tem telhas pretas porque o preto está associado com a água e, desta forma, com a prevenção de incêndios. Similarmente, as residências do Príncipe Imperial possuem telhas verdes porque o verde está associado com a madeira e, desta forma, com o crescimento.

As galerias principais dos pátios Exterior e Interior são, todas elas, distribuídas em grupos de três — a disposição do trigrama Qian, representando o Céu. As residências do Pátio Interior, por outro lado, estão organizadas em grupos de seis — a forma do trigrama Kun, representando a Terra.

Os telhados de arestas inclinadas dos edifícios estão decorados com uma linha de estatuetas. O número de estatuetas representa o estatuto do edifício — um edifício secundário deve ter 3 ou 5. A Galeria da Harmonia Suprema tem 10, o único edifício no país com permissão para ter tal número de estatuetas nos tempos imperiais. Como resultado, a sua décima estatueta (denominada de “Hangshi”, ou “décima classificada” (chinês: 行什, pinyin: Hángshí), é algo único nos edifícios pré-modernos.

O esquema de edifícios segue costumes ancestrais registados na obra Clássico de Ritos. Por esse motivo, templos ancestrais estão em frente do palácio. As áreas de armazenamento estão colocadas na parte frontal do complexo palatino, e as residências na parte de trás.

Coleções

As coleções do Palácio Museu são baseadas na coleção imperial Qing. De acordo com os resultados de uma auditoria de 1925, cerca de 1,17 milhões de elementos foram guardados na Cidade Proibida. Adicionalmente, as bibliotecas imperiais acolhem uma das maiores coleções de livros antigos e vários documentos do país, incluindo documentos governamentais das dinastias Ming e Qing.

A partir de 1933, a ameaça da invasão japonesa forçou à evacuação das partes mais importantes da coleção do museu. Depois do final da Segunda Guerra Mundial, esta coleção voltou para Nanjing. No entanto, com a vitória iminente dos Comunistas na Guerra Civil Chinesa, o governo Nacionalista decidiu embarcar uma seleção desta coleção para Taiwan. Das 13.427 caixas de artefatos evacuados, 2.972 estão agora alojadas no Palácio Museu Nacional, em Taipei. Quase dez mil caixas regressaram a Pequim, mas 2.221 permanecem armazenadas sob a administração do Museu de Nanjing.

Depois de 1949, o museu conduziu uma nova auditoria, assim como uma busca completa na Cidade Proibida, descobrindo um importante número de elementos. Adicionalmente, o governou mudou elementos de outros museus do país para reforçar a coleção do Palácio Museu. Também comprou algumas peças e recebeu donativos do público.

A História da Cidade Proibida estende-se por cerca de seis séculos, desempenhando o papel de palácio imperial durante 500 anos, desde a época do Imperador Yongle, terceiro soberano da Dinastia Ming, até ao final da Dinastia Qing, em 1911. Na década de 1920 foi transformado em museu, função que desempenha até à atualidade com o nome de “Palácio Museu”.

O nome comum em português, “a Cidade Proibida”, é a tradução do nome chinês Zijin Cheng (紫禁城), literalmente “Cidade Proibida Púrpura”. Outro nome português de origem semelhante é “Palácio Proibido”. Na língua manchu é chamado de Dabkūri dorgi hoton, que significa literalmente “Cidade Interior em Camadas”.

O nome “Zijin Cheng” é uma denominação imbuída de significado a vários níveis. Zi, ou “Púrpura”, refere-se à Estrela do Norte, a qual antigamente era chamada na China de Estrela Ziwei, e na astrologia chinesa tradicional era a moradia do Imperador Celestial. A região celestial envolvente, as Três Delimitações (em chinês: 紫微垣; em pinyin: Zǐwēiyuán), era o reino do Imperador Celestial e da sua família. A Cidade Proibida, como residência do Imperador terreno, era seu correspondente na Terra. Jin, ou “Proibida”, refere-se ao facto de ninguém poder entrar ou sair do palácio sem a permissão do Imperador. Cheng significa “Cidade Muralhada”.

Atualmente, o lugar é mais conhecido como Gugong (em chinês: 故宫), o que significa “Antigo Palácio”. O museu que se baseia nestes edifícios é conhecido como “Palácio Museu” (em chinês: 故宫博物院; em pinyin: Gùgōng Bówùyùan).

Dinastia Ming – O início da construção

O lugar onde se ergue a Cidade Proibida fazia parte da cidade Imperial de Khanbaliq durante a Dinastia Yuan Mongol. O Imperador Hongwu, da Dinastia Ming, mudou a capital de Pequim, no Norte, para Nanjing, no Sul, e em 1369 ordenou que os palácios mongóis fossem arrasados. O seu filho Zhu Di foi feito Príncipe de Yan, com sede em Pequim. Em 1402, Zhu Di usurpou o trono e tornou-se o Imperador Yongle, fazendo de Pequim uma capital secundária do Império Ming. Em 1406 começou a construção do que viria a ser a Cidade Proibida.

A construção durou quinze anos e empregou o trabalho de 100 mil mestres artesãos e de mais de um milhão de trabalhadores. Os pilares das mais importantes galerias foram feitos com madeira de preciosos Phoebe zhennan (chinês: 楠木, pinyin: nánmù) encontrados nas selvas do Sudoeste da China. Tal feito não se repetiria nos anos seguintes — os grandes pilares que se vêm atualmente foram reconstruídos, usando múltiplas peças de pinheiro, durante a Dinastia Qing. Os vastos terraços e grandes entalhes foram feitos em pedra vinda de pedreiras próximas de Pequim. As peças maiores não puderam ser transportadas convencionalmente. No entanto, foram escavadas cavidades ao longo do caminho, tendo a água transbordado para a estrada no intenso inverno, formando uma camada de gelo. As pedras foram dragadas através do gelo.

Os pisos das galerias principais foram pavimentados com “tijolos dourados” (chinês: 金砖, pinyin: jīnzhuān), feitos com argila de sete condados das prefeituras de Suzhou e Songjiang. Cada lote demorou meses a cozir, resultando em tijolos macios que tocam com um som metálico. A maior parte dos pavimentos interiores que se veem atualmente são os originais, com seis séculos de existência.

O solo escavado durante a construção do fosso foi amontoado a Norte do palácio, criando uma colina artificial, a Colina Jingshan.

Mesmo antes de o palácio ficar completo, Zhu Di mudou-se para Pequim com o pretexto de “passear e caçar” (巡狩): o centro administrativo do império transferiu-se gradualmente de Nanjing para Pequim. Quando o palácio ficou concluído, em 1420, Zhu Di mudou-se para lá e Pequim tornou-se oficialmente a principal capital do império. No entanto, escassos nove meses depois da sua construção, as três galerias principais, incluindo a Sala do Trono, incendiaram-se, sendo reconstruídas apenas vinte e três anos depois.

Entre 1420 e 1644, a Cidade Proibida foi a sede da Dinastia Ming. Em abril de 1644, forças rebeldes lideradas por Li Zicheng capturaram-na, e o Imperador Chongzhen, o último da Dinastia Ming, enforcou-se na Colina de Jingshan. Li Zicheng autoproclamou-se Imperador da Dinastia Shun na Galeria da Eminência Militar. No entanto, Li escapou pouco depois face à combinação das forças manchu e do antigo general Ming Wu Sangui, lançando fogo a partes da Cidade Proibida no processo.

Dinastia Qing

Em outubro, os manchus adquiriram supremacia no Norte da China, e o Príncipe regente Dorgon proclamou a Dinastia Qing como sucessora da Ming. Foi realizada uma cerimônia na Cidade Proibida para proclamar o jovem Imperador Shunzhi como governante de toda a China. Os governantes Qing mantiveram amplamente o esquema do palácio da Dinastia Ming, excetuando os nomes dos principais edifícios. Os nomes da Dinastia Ming favoreciam o carácter ji (em chinês tradicional: 極; em chinês simplificado: 极), o que significava “supremacia” ou “extremismo”, enquanto que os novos nomes Qing davam relevância a nomes que significavam “paz” e “harmonia”; por exemplo, Huangji Dian, a “Galeria da Supremacia Imperial”, foi alterado para Taihe Dian, a “Galeria da Harmonia Suprema”.

Adicionalmente, foram feitas marcas e placas bilíngues em (chinês e manchu) e a principal parte do quarto oficial da Imperatriz, a Galeria da Tranquilidade Terrena, tornou-se um santuário xamanista.

A Cidade Proibida tornou-se, assim, o centro do poder da Dinastia Qing. Em 1860, durante a Segunda Guerra do Ópio, forças anglo-francesas tomaram o controle da Cidade Proibida e ocuparam-na até ao final da guerra. Em 1900, a Imperatriz Tseu-Hi fugiu da Cidade Proibida durante o Levante dos Boxers, deixando-a para ser ocupada pelas forças dos poderes do tratado até ao ano seguinte.

Depois de ser o lar de vinte e quatro Imperadores, catorze da Dinastia Ming e dez da Dinastia Qing, a Cidade Proibida deixou de ser o centro político da China em 1912, com a abdicação de Puyi, o último Imperador da China. No entanto, segundo um acordo assinado entre a Casa Imperial Qing e o novo governo da República da China, foi permitido a Puyi, de fato exigido, viver no interior das paredes da Cidade Proibida. Puyi e a sua família mantiveram o uso do Pátio Interior, enquanto que o Pátio Exterior foi ocupado pelas autoridades republicanas, sendo ali estabelecido, no dia 10 de outubro de 1925, o Museu Palácio na Cidade Proibida. O vasto acervo de tesouros e curiosidades ali alojados foram gradualmente catalogados e colocados em exposição pública.

Pouco depois, no entanto, a invasão japonesa da China ameaçou a segurança destes tesouros nacionais, tendo estes sido retirados da Cidade Proibida. Com início em 1933, importantes artefatos foram empacotados e removidos. Em primeiro lugar foram levados para Nanjing e depois para Xangai. No entanto, as forças imperiais japonesas rapidamente ameaçaram Xangai. O Yuan Executivo decidiu remover as coleções para o remoto oeste. Os artefatos foram divididos em três lotes. Um tomou a rota do Norte em direção a Shaanxi, outra foi embarcada pelo Rio Yangtzé em direção a Sichuan e o último lote foi transportado para o Sul em direção a Guangxi. O avanço da marcha japonesa forçou a uma mudança rápida dos artefatos, de forma a escaparem do bombardeamento e da captura, frequentemente com notícia de apenas algumas horas. No final, todos os lotes chegaram relativamente salvos a Sichuan, onde permaneceram até ao final da guerra.

Entretanto, o exército japonês capturou a Cidade Proibida em Pequim, mas apenas conseguiram remover alguns grandes barris de bronze e alguns canhões. A maior parte destes foram recuperados depois da guerra, em Tianjin.

No final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, os artefatos foram levados para Nanjing e Pequim. De forma notável, nenhum artefato foi danificado ou perdido.

Em 1947, com o Kuomintang, que dominava o governo da China desde 1928, a perder a Guerra Civil Chinesa, Chiang Kai-shek ordenou que os artefatos da Cidade Proibida e do Museu Nacional de Nanjing fossem removidos para Taiwan. No evento, nenhuma das peças foi embarcada de Pequim, mas muitas das melhores coleções armazenadas em Nanjing foram embarcadas para Taiwan, formando atualmente o coração do Palácio Museu Nacional, em Taipei.

Na atualidade

Atualmente, o Palácio Museu é responsável pela preservação e restauro da Cidade Proibida. As construções em altura ao redor da Cidade Proibida estão restringidas. Em 2005, iniciou-se um projeto de restauro de dezesseis anos, para reparar e restaurar todos os edifícios da Cidade Proibida para os seus estados antes de 1912. Este é o maior restauro da Cidade Proibida empreendido nos últimos dois séculos, e envolve o encerramento progressivo das secções da Cidade Proibida para avaliação, reparações e restauro. Também no âmbito do projeto, algumas seções abandonadas ou destruídas serão reconstruídas. Os jardins do “Palácio da Prosperidade Estabelecia”, destruídos num incêndio em 1923, foram reconstruídos em 2005, mas permanecem encerrados ao público. O interior também foi desenhado num estilo diferente, e os edifícios são utilizados por dignitários em visita.

Como arquitetura, a Cidade Proibida é o maior complexo palaciano sobrevivente no mundo, cobrindo uma área de 723.633 m² (0,0007 km², 0,178 acres, ou 0,00028 mi²). É constituído por um retângulo com 961 metros de norte a sul e 753 metros de leste a oeste. Consiste em 980 edifícios sobreviventes com 8.707 seções de salas.

A Cidade Proibida foi desenhada como o centro da antiga cidade muralhada de Pequim. Fica encerrada numa grande área muralhada chamada de “Cidade Imperial”. A Cidade Imperial está, por suas vez, encerrada pela Cidade Interior; para sul desta, fica a Cidade Exterior.

A Cidade Proibida mantém importância no esquema cívico de Pequim. O eixo central Norte-Sul permanece como o eixo central da capital chinesa. Este eixo estende-se para Sul através do Portão Tiananmen até à Praça da Paz Celestial, o centro cerimonial da República Popular da China. Para Norte, o eixo estende-se através das Torres Gulou e Zhonglou (Sino e Tambor), em direção ao portão Yongdingmen.

Religião

A religião era uma parte importante da Corte Imperial. Durante a Dinastia Qing, o Palácio da Harmonia Terrena tornou-se um local de cerimônia xamanista manchu. Ao mesmo tempo, a religião nativa chinesa, o Taoísmo, continuou a ter um papel importante ao longo das Dinastias Ming e Qing. Existiam dois santuários taoístas, um no jardim imperial e outro na área central do Pátio Interior.

Uma forma prevalente de religião no palácio era o Budismo tibetano, ou Lamaísmo. Um número de templos e santuários foi disperso por todo o Pátio Interior. A iconografia budista também proliferou nas decorações interiores de muitos edifícios. Entre estes, o Pavilhão da Chuva e Flores é um dos mais importantes. Este alberga um grande número de estátuas budistas, ícones e mandalas, colocados em arranjos rituais.

Simbolismo

O desenho da Cidade Proibida, do seu esboço geral ao menor detalhe, foi meticulosamente planeado para refletir os princípios filosóficos e religiosos, e sobre todos os simbolismos a majestade do poder Imperial. Entre os mais notáveis exemplos simbólicos incluem-se:

O amarelo, como a cor do Imperador. Desta forma, quase todos os telhados da Cidade Proibida ostentam telhas amarelas vidradas. Existem apenas duas exceções. A biblioteca no Pavilhão da Profundidade Literária (文渊阁) tem telhas pretas porque o preto está associado com a água e, desta forma, com a prevenção de incêndios. Similarmente, as residências do Príncipe Imperial possuem telhas verdes porque o verde está associado com a madeira e, desta forma, com o crescimento.

As galerias principais dos pátios Exterior e Interior são, todas elas, distribuídas em grupos de três — a disposição do trigrama Qian, representando o Céu. As residências do Pátio Interior, por outro lado, estão organizadas em grupos de seis — a forma do trigrama Kun, representando a Terra.

Os telhados de arestas inclinadas dos edifícios estão decorados com uma linha de estatuetas. O número de estatuetas representa o estatuto do edifício — um edifício secundário deve ter 3 ou 5. A Galeria da Harmonia Suprema tem 10, o único edifício no país com permissão para ter tal número de estatuetas nos tempos imperiais. Como resultado, a sua décima estatueta (denominada de “Hangshi”, ou “décima classificada” (chinês: 行什, pinyin: Hángshí), é algo único nos edifícios pré-modernos.

O esquema de edifícios segue costumes ancestrais registados na obra Clássico de Ritos. Por esse motivo, templos ancestrais estão em frente do palácio. As áreas de armazenamento estão colocadas na parte frontal do complexo palatino, e as residências na parte de trás.

Coleções

As coleções do Palácio Museu são baseadas na coleção imperial Qing. De acordo com os resultados de uma auditoria de 1925, cerca de 1,17 milhões de elementos foram guardados na Cidade Proibida. Adicionalmente, as bibliotecas imperiais acolhem uma das maiores coleções de livros antigos e vários documentos do país, incluindo documentos governamentais das dinastias Ming e Qing.

A partir de 1933, a ameaça da invasão japonesa forçou à evacuação das partes mais importantes da coleção do museu. Depois do final da Segunda Guerra Mundial, esta coleção voltou para Nanjing. No entanto, com a vitória iminente dos Comunistas na Guerra Civil Chinesa, o governo Nacionalista decidiu embarcar uma seleção desta coleção para Taiwan. Das 13.427 caixas de artefatos evacuados, 2.972 estão agora alojadas no Palácio Museu Nacional, em Taipei. Quase dez mil caixas regressaram a Pequim, mas 2.221 permanecem armazenadas sob a administração do Museu de Nanjing.

Depois de 1949, o museu conduziu uma nova auditoria, assim como uma busca completa na Cidade Proibida, descobrindo um importante número de elementos. Adicionalmente, o governou mudou elementos de outros museus do país para reforçar a coleção do Palácio Museu. Também comprou algumas peças e recebeu donativos do público.

O trono na Galeria da Harmonia Preservada

A Galeria da Harmonia Suprema

Turistas no interior do Palácio Museu

Ensinamento de Okada Jinsai

Zuiun-kyo - Como um local de renome mundial

Dizia-se que o protótipo do Paraíso Terrestre, que ora estou construindo em Momoyama, Atami, era, no início, o primeiro do Leste do Japão. Posteriormente, com o desenvolvimento das obras, passaram a dizer que era o primeiro do país. Hoje, os comentários são de que é o primeiro do mundo. De fato poderíamos citar, como prédio de caráter religioso, com fama mundial, em primeiro lugar, pela antiguidade, o Partenon da Grécia; a seguir, como obras da Idade Média, o Palácio do Vaticano de Roma e a Abadia de Westminster da Inglaterra. Outro exemplar de construção renomada, apesar de não se tratar de templo, é o Palácio Imperial de Pequim. Sua beleza arquitetônica dimensionalmente grandiosa e imponente capacita-nos a considerá-lo, com certeza, a primeira em termos mundiais. No Japão, temos, indubitavelmente, o Templo Toshogu, de Nikko: este, sim, o único edifício do qual podemos ter orgulho diante do resto mundo.

Posto em cotejo com as mencionadas construções, o Zuiun-kyo é bem modesto: os fundos nele investidos não atingem nem a alguns centésimos dos que foram nas outras. Contudo, no que tange aos demais aspectos, quero dizer — o seu posicionamento, o seu panorama geral, ou a vista que o circunda, enfim, a beleza paisagística, que se pode daí desfrutar infinitamente — torna-o ímpar neste vasto universo. É esse o elogio uníssono de vários especialistas no assunto. Passarei a descrevê-lo pormenorizadamente. Temos, antes de mais nada, o ambiente naturalmente adequado. O monte em que se localiza não é muito alto: uns cem metros acima do nível do mar. Além disso, dista algumas quadras da estação ferroviária, o que significa uma caminhada de quinze minutos, ou cerca de cinco minutos de carro; não poderia haver lugar mais conveniente. O seu cronograma de construção prevê três estágios. Atualmente, encontram-se em andamento as obras do primeiro, e prevê-se para meados do corrente o preparo do terreno. Na sua parte mais alta, cuja área mede 3.960 metros quadrados, programa-se a edificação de um templo de 1.188 metros quadrados, com perto de trinta e dois metros de frente e trinta e seis de fundo. Sua forma será moderníssima, no estilo Le Corbusier, da França — aquele que hoje domina o mundo —, tendo eu acrescentado um toque ainda mais moderno ao projeto. Seu desenho é simples ao extremo: um prédio sem telhado e inteiramente branco. Curiosamente, parece que o estilo Le Corbusier nasceu das construções destinadas para a Cerimônia do Chá. Numa das laterais do terreno, já está erguido um muro de sete metros de altura e noventa metros de extensão. Somente este já é o bastante para, com sua imponência, deixar boquiaberto quem o vê.

É indizível a beleza das curvas, ricas em variação natural, das colinas que se elevam e afundam ao redor do núcleo dominado pelo templo: não se pode evitar pensar que foi Deus quem preparou este local. Ao contemplarmos o conjunto do seu sopé, provavelmente experimentaremos a sensação de viajar por um país de sonhos, esquecendo-nos de que estamos neste mundo.

Quanto a isso, o atual projeto prevê o plantio de cem pés de ameixeiras de idade avançada, igual número de cerejeiras da variedade Yoshino, cinquenta pés de cerejeira de flores dobradas, algumas dezenas de azáleas gigantes, arbustos tais como tremeleias, roseiras, lilares, glicínias, globuláceas, camélias, além de flores como tulipas, jacintos, narcisos, crisântemos de primavera, anêmonas, amores-perfeitos, cravos, ciclamens e outras mais. Já que todas essas plantas florescem exclusivamente na primavera, o espetáculo, na época em que o Zuiun-kyo foi inaugurado, decerto escapa à imaginação e, naturalmente, será algo inédito no mundo.

O que até agora vim descrevendo diz respeito apenas ao primeiro estágio. Acredito que, com a conclusão do segundo e terceiro seguintes, esta obra será, infalivelmente, um dos motivos de orgulho do Japão. Podemos, portanto, desde já, contar com que o Templo Toshogu, de Nikko, e o Paraíso Terrestre de Atami, façam parte do programa obrigatório do visitante estrangeiro no Japão.

Finalmente, desejo esclarecer o motivo original que me levou a projetar a citada construção. Como sempre digo, a missão do Japão está em ser o país da Arte. Assim, meu objetivo está na criação de uma obra-prima, unindo as belezas natural e artificial japonesas. Para tanto, antes de mais nada, é primordial a escolha da sua localização. A conclusão a que cheguei, após percorrer o país inteiro, foi de que Atami constitui o sítio ideal e excelente para o projeto. Desnecessário discorrer a respeito do seu clima ameno, das termas, das suas montanhas, do seu mar, das suas ilhas (Hatsushima e Oshima) e da beleza incomparável da paisagem oferecida pela riqueza de recortes da sua linha marítima. Além disso, tome-se em conta a sua facilidade de acesso, por se localizar na distância média entre as Regiões Leste e Oeste, sua vizinhança com o Parque Nacional de Hakone e a Península de Izu, etc. Na verdade, um sítio excelente concedido pela graça divina, do qual nada mais se tem a exigir. Tudo isso sem contar que adquirimos consecutivamente mais de sessenta e seis mil metros quadrados dos terrenos com a melhor paisagem dentro de Atami. Naturalmente, como sua compra se deu há alguns anos, quando os preços eram extremamente baixos, não resta a menor dúvida de que Deus o preparara outrora, para tal fim, sendo evidente que reúne as condições necessárias para a construção do protótipo do Paraíso Terrestre.

Jornal Kyussei, nº 49 — 11 de fevereiro de 1950

Dizia-se que o protótipo do Paraíso Terrestre, que ora estou construindo em Momoyama, Atami, era, no início, o primeiro do Leste do Japão. Posteriormente, com o desenvolvimento das obras, passaram a dizer que era o primeiro do país. Hoje, os comentários são de que é o primeiro do mundo. De fato poderíamos citar, como prédio de caráter religioso, com fama mundial, em primeiro lugar, pela antiguidade, o Partenon da Grécia; a seguir, como obras da Idade Média, o Palácio do Vaticano de Roma e a Abadia de Westminster da Inglaterra. Outro exemplar de construção renomada, apesar de não se tratar de templo, é o Palácio Imperial de Pequim. Sua beleza arquitetônica dimensionalmente grandiosa e imponente capacita-nos a considerá-lo, com certeza, a primeira em termos mundiais. No Japão, temos, indubitavelmente, o Templo Toshogu, de Nikko: este, sim, o único edifício do qual podemos ter orgulho diante do resto mundo.

Posto em cotejo com as mencionadas construções, o Zuiun-kyo é bem modesto: os fundos nele investidos não atingem nem a alguns centésimos dos que foram nas outras. Contudo, no que tange aos demais aspectos, quero dizer — o seu posicionamento, o seu panorama geral, ou a vista que o circunda, enfim, a beleza paisagística, que se pode daí desfrutar infinitamente — torna-o ímpar neste vasto universo. É esse o elogio uníssono de vários especialistas no assunto. Passarei a descrevê-lo pormenorizadamente. Temos, antes de mais nada, o ambiente naturalmente adequado. O monte em que se localiza não é muito alto: uns cem metros acima do nível do mar. Além disso, dista algumas quadras da estação ferroviária, o que significa uma caminhada de quinze minutos, ou cerca de cinco minutos de carro; não poderia haver lugar mais conveniente. O seu cronograma de construção prevê três estágios. Atualmente, encontram-se em andamento as obras do primeiro, e prevê-se para meados do corrente o preparo do terreno. Na sua parte mais alta, cuja área mede 3.960 metros quadrados, programa-se a edificação de um templo de 1.188 metros quadrados, com perto de trinta e dois metros de frente e trinta e seis de fundo. Sua forma será moderníssima, no estilo Le Corbusier, da França — aquele que hoje domina o mundo —, tendo eu acrescentado um toque ainda mais moderno ao projeto. Seu desenho é simples ao extremo: um prédio sem telhado e inteiramente branco. Curiosamente, parece que o estilo Le Corbusier nasceu das construções destinadas para a Cerimônia do Chá. Numa das laterais do terreno, já está erguido um muro de sete metros de altura e noventa metros de extensão. Somente este já é o bastante para, com sua imponência, deixar boquiaberto quem o vê.

É indizível a beleza das curvas, ricas em variação natural, das colinas que se elevam e afundam ao redor do núcleo dominado pelo templo: não se pode evitar pensar que foi Deus quem preparou este local. Ao contemplarmos o conjunto do seu sopé, provavelmente experimentaremos a sensação de viajar por um país de sonhos, esquecendo-nos de que estamos neste mundo.

Quanto a isso, o atual projeto prevê o plantio de cem pés de ameixeiras de idade avançada, igual número de cerejeiras da variedade Yoshino, cinquenta pés de cerejeira de flores dobradas, algumas dezenas de azáleas gigantes, arbustos tais como tremeleias, roseiras, lilares, glicínias, globuláceas, camélias, além de flores como tulipas, jacintos, narcisos, crisântemos de primavera, anêmonas, amores-perfeitos, cravos, ciclamens e outras mais. Já que todas essas plantas florescem exclusivamente na primavera, o espetáculo, na época em que o Zuiun-kyo foi inaugurado, decerto escapa à imaginação e, naturalmente, será algo inédito no mundo.

O que até agora vim descrevendo diz respeito apenas ao primeiro estágio. Acredito que, com a conclusão do segundo e terceiro seguintes, esta obra será, infalivelmente, um dos motivos de orgulho do Japão. Podemos, portanto, desde já, contar com que o Templo Toshogu, de Nikko, e o Paraíso Terrestre de Atami, façam parte do programa obrigatório do visitante estrangeiro no Japão.

Finalmente, desejo esclarecer o motivo original que me levou a projetar a citada construção. Como sempre digo, a missão do Japão está em ser o país da Arte. Assim, meu objetivo está na criação de uma obra-prima, unindo as belezas natural e artificial japonesas. Para tanto, antes de mais nada, é primordial a escolha da sua localização. A conclusão a que cheguei, após percorrer o país inteiro, foi de que Atami constitui o sítio ideal e excelente para o projeto. Desnecessário discorrer a respeito do seu clima ameno, das termas, das suas montanhas, do seu mar, das suas ilhas (Hatsushima e Oshima) e da beleza incomparável da paisagem oferecida pela riqueza de recortes da sua linha marítima. Além disso, tome-se em conta a sua facilidade de acesso, por se localizar na distância média entre as Regiões Leste e Oeste, sua vizinhança com o Parque Nacional de Hakone e a Península de Izu, etc. Na verdade, um sítio excelente concedido pela graça divina, do qual nada mais se tem a exigir. Tudo isso sem contar que adquirimos consecutivamente mais de sessenta e seis mil metros quadrados dos terrenos com a melhor paisagem dentro de Atami. Naturalmente, como sua compra se deu há alguns anos, quando os preços eram extremamente baixos, não resta a menor dúvida de que Deus o preparara outrora, para tal fim, sendo evidente que reúne as condições necessárias para a construção do protótipo do Paraíso Terrestre.

Jornal Kyussei, nº 49 — 11 de fevereiro de 1950

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