Cinematógrafo, a origem do cinema moderno - Revista Universo

Ciência

Cinematógrafo, a origem do cinema moderno

Cinema (do em grego: κίνημα, kinema “movimentos” e γράφειν, graphein “registrar”), também chamada sétima arte, ou, em certos contextos cinematografia, pode ser definida como a técnica e a arte de fixar e de reproduzir imagens que suscitam impressão de movimento, assim como a indústria que produz estas imagens. As obras cinematográficas (mais conhecidas como filmes) são produzidas através da gravação de imagens do mundo com câmeras (câmaras) adequadas, ou pela sua criação utilizando técnicas de animação ou efeitos visuais específicos. Mais especificamente, pode ser descrita como o “conjunto de princípios, processos e técnicas utilizados para captar e projetar numa tela imagens estáticas sequenciais (fotogramas) obtidas com uma câmera especial, dando impressão ao espectador de estarem em movimento”. O diretor de arte pode ser descrito como o principal colaborador visual de um diretor de cinema. Também se usa a palavra ‘cinegrafia’, estando dicionarizada.

Os filmes são assim constituídos por uma série de imagens impressas em determinado suporte, alinhadas em sequência, chamadas fotogramas. Quando essas imagens são projetadas de forma rápida e sucessiva, o espectador tem a ilusão de observar movimento. A cintilação entre os fotogramas não é percebida devido a um efeito conhecido como persistência da visão: o olho humano retém uma imagem durante uma fração de segundo após a sua fonte ter saído do campo da visão. O espectador tem assim a ilusão de movimento, devido a um efeito psicológico chamado movimento beta.

O cinema é um artefato cultural criado por determinadas culturas que nele se refletem e que, por sua vez, as afetam. É uma arte poderosa, é fonte de entretenimento popular e, destinando-se a educar ou doutrinar, pode tornar-se um método eficaz de influenciar os cidadãos. É a imagem animada que confere aos filmes o seu poder de comunicação universal. Dada a grande diversidade de línguas existentes, é pela dublagem (dobragem) ou pelas legendas, que traduzem o diálogo noutras línguas, que os filmes se tornaram mundialmente populares.

Origens

A origem da palavra “cinema” deve-se à circunstância de ter sido o cinematógrafo o primeiro equipamento utilizado para filmar e projetar. Por metonímia, a palavra também se refere à sala onde são projetadas obras cinematográficas. O uso da película para a produção de filmes encontra-se em recessão. O cinema digital está em plena expansão desde meados da primeira década do séc. XXI, tanto na tomada de vistas como na projeção. O digital permite, além disso, que os filmes circulem fora dos circuitos tradicionais de distribuição, entre particulares e instituições. A invenção da fotografia, e sobretudo a da fotografia animada, foram momentos cruciais para o desenvolvimento não só das artes como da ciência, em particular no campo da antropologia visual.

Cinematografia

O cinema existe graças à invenção do cinematógrafo, inventado pelos Irmãos Lumière no fim do século XIX. Em 28 de dezembro de 1895, na cave do Grand Café, em Paris, realizaram os dois engenhosos irmãos a primeira exibição pública e paga da arte do cinema: uma série de dez filmes, com duração de 40 a 50 segundos cada (os primeiros rolos de película tinham apenas quinze metros de comprimento). Os filmes até hoje mais conhecidos desta primeira sessão chamavam-se “A saída dos operários da Fábrica Lumière” e “A chegada do trem à Estação Ciotat”, cujos títulos exprimem bem o seu conteúdo. Apesar de também existirem notícias de projeções um pouco anteriores, de outros inventores (como os irmãos Max e Emil Skladanowsky na Alemanha), a sessão dos Lumière é aceita pela grande maioria da literatura cinematográfica como o marco inicial da nova arte. O cinema expandiu-se a partir de então pela França, por toda a Europa e Estados Unidos, por intermédio de cinegrafistas enviados pelos irmãos Lumière para captar imagens pelo mundo afora.

Inovações

Nesta mesma época, um mágico ilusionista, chamado Georges Méliès, dono de um teatro nas vizinhanças do local da primeira exibição dos Lumière, quis comprar um cinematógrafo para o utilizar em seus espetáculos. Os Lumière não quiseram vender-lhe o aparelho: o pai dos irmãos inventores argumentava que o cinematógrafo tinha unicamente finalidade científica e que o mágico teria, por certo, prejuízo se gastasse dinheiro com a máquina para fazer entretenimento. Frustrado, Méliès conseguiu, no entanto, adquirir um aparelho semelhante na Inglaterra, fabricado por Robert William Paul, tornando-se assim o primeiro grande produtor de filmes de ficção, com narrativas sedutoras e truques aliciantes, destinados ao grande público: os primeiros efeitos especiais da história do cinema. Foi ele o criador da fantasia na produção e realização de filmes.

Logo depois, nas duas primeiras décadas do século XX, o diretor estadunidense David W. Griffith, um dos pioneiros de Hollywood, realizou filmes que o levaram a ser considerado pela historiografia cinematográfica o grande responsável pelo desenvolvimento e pela consolidação da linguagem do cinema, como arte independente, apesar das polêmicas ideológicas em que se envolveu. Foi ele o primeiro a fazer filmes em que se utilizou a montagem e em que certos movimentos de câmera foram usados com maestria, estabelecendo assim os parâmetros da linguagem cinematográfica, que a partir de então se universalizou. Destaque para “Intolerância”, admirado até hoje por cineastas e cinéfilos de todo o mundo. Seguidamente, certos agentes do Construtivismo russo, Dziga Vertov no documentário e Sergei Eisenstein na ficção, darão uma importante e decisiva contribuição para o desenvolvimento das técnicas narrativas e de montagem no cinema.

Em suma, os irmãos Lumière e Meliès deram origem a dois géneros fundamentais de cinema: o cinema documental e o cinema de ficção. Como forma de registrar acontecimentos ou de narrar histórias, o cinema é considerado uma arte, denominada sétima arte, desde a publicação, em 1911, do Manifesto das Sete Artes do teórico italiano Ricciotto Canudo.

Capturando imagens e som para efeitos de comunicação, o cinema também é mídia. Desde a sua origem que é arte e comércio. A indústria cinematográfica cedo se transforma em negócio lucrativo em países como a Índia e os Estados Unidos, respetivamente o maior produtor em número de filmes por ano e o que possui a maior economia cinematográfica, tanto no mercado interno quanto no volume de exportações.

No suporte em película, a projeção de imagens estáticas em sequência para criar a ilusão de movimento terá de ser de no mínimo 16 fotogramas (quadros) por segundo, para que o cérebro humano não detecte que são simples imagens isoladas. Desde 1929, juntamente com a universalização do cinema sonoro, as projeções cinematográficas no mundo inteiro foram padronizadas em 24 quadros por segundo. O cinema digital alterou este padrão. Em vídeo digital é comum o uso de 25 frames (fotogramas) por segundo e de 30 nos EUA.

Cinema (do em grego: κίνημα, kinema “movimentos” e γράφειν, graphein “registrar”), também chamada sétima arte, ou, em certos contextos cinematografia, pode ser definida como a técnica e a arte de fixar e de reproduzir imagens que suscitam impressão de movimento, assim como a indústria que produz estas imagens. As obras cinematográficas (mais conhecidas como filmes) são produzidas através da gravação de imagens do mundo com câmeras (câmaras) adequadas, ou pela sua criação utilizando técnicas de animação ou efeitos visuais específicos. Mais especificamente, pode ser descrita como o “conjunto de princípios, processos e técnicas utilizados para captar e projetar numa tela imagens estáticas sequenciais (fotogramas) obtidas com uma câmera especial, dando impressão ao espectador de estarem em movimento”. O diretor de arte pode ser descrito como o principal colaborador visual de um diretor de cinema. Também se usa a palavra ‘cinegrafia’, estando dicionarizada.

Os filmes são assim constituídos por uma série de imagens impressas em determinado suporte, alinhadas em sequência, chamadas fotogramas. Quando essas imagens são projetadas de forma rápida e sucessiva, o espectador tem a ilusão de observar movimento. A cintilação entre os fotogramas não é percebida devido a um efeito conhecido como persistência da visão: o olho humano retém uma imagem durante uma fração de segundo após a sua fonte ter saído do campo da visão. O espectador tem assim a ilusão de movimento, devido a um efeito psicológico chamado movimento beta.

O cinema é um artefato cultural criado por determinadas culturas que nele se refletem e que, por sua vez, as afetam. É uma arte poderosa, é fonte de entretenimento popular e, destinando-se a educar ou doutrinar, pode tornar-se um método eficaz de influenciar os cidadãos. É a imagem animada que confere aos filmes o seu poder de comunicação universal. Dada a grande diversidade de línguas existentes, é pela dublagem (dobragem) ou pelas legendas, que traduzem o diálogo noutras línguas, que os filmes se tornaram mundialmente populares.

Origens

A origem da palavra “cinema” deve-se à circunstância de ter sido o cinematógrafo o primeiro equipamento utilizado para filmar e projetar. Por metonímia, a palavra também se refere à sala onde são projetadas obras cinematográficas. O uso da película para a produção de filmes encontra-se em recessão. O cinema digital está em plena expansão desde meados da primeira década do séc. XXI, tanto na tomada de vistas como na projeção. O digital permite, além disso, que os filmes circulem fora dos circuitos tradicionais de distribuição, entre particulares e instituições. A invenção da fotografia, e sobretudo a da fotografia animada, foram momentos cruciais para o desenvolvimento não só das artes como da ciência, em particular no campo da antropologia visual.

Cinematografia

O cinema existe graças à invenção do cinematógrafo, inventado pelos Irmãos Lumière no fim do século XIX. Em 28 de dezembro de 1895, na cave do Grand Café, em Paris, realizaram os dois engenhosos irmãos a primeira exibição pública e paga da arte do cinema: uma série de dez filmes, com duração de 40 a 50 segundos cada (os primeiros rolos de película tinham apenas quinze metros de comprimento). Os filmes até hoje mais conhecidos desta primeira sessão chamavam-se “A saída dos operários da Fábrica Lumière” e “A chegada do trem à Estação Ciotat”, cujos títulos exprimem bem o seu conteúdo. Apesar de também existirem notícias de projeções um pouco anteriores, de outros inventores (como os irmãos Max e Emil Skladanowsky na Alemanha), a sessão dos Lumière é aceita pela grande maioria da literatura cinematográfica como o marco inicial da nova arte. O cinema expandiu-se a partir de então pela França, por toda a Europa e Estados Unidos, por intermédio de cinegrafistas enviados pelos irmãos Lumière para captar imagens pelo mundo afora.

Inovações

Nesta mesma época, um mágico ilusionista, chamado Georges Méliès, dono de um teatro nas vizinhanças do local da primeira exibição dos Lumière, quis comprar um cinematógrafo para o utilizar em seus espetáculos. Os Lumière não quiseram vender-lhe o aparelho: o pai dos irmãos inventores argumentava que o cinematógrafo tinha unicamente finalidade científica e que o mágico teria, por certo, prejuízo se gastasse dinheiro com a máquina para fazer entretenimento. Frustrado, Méliès conseguiu, no entanto, adquirir um aparelho semelhante na Inglaterra, fabricado por Robert William Paul, tornando-se assim o primeiro grande produtor de filmes de ficção, com narrativas sedutoras e truques aliciantes, destinados ao grande público: os primeiros efeitos especiais da história do cinema. Foi ele o criador da fantasia na produção e realização de filmes.

Logo depois, nas duas primeiras décadas do século XX, o diretor estadunidense David W. Griffith, um dos pioneiros de Hollywood, realizou filmes que o levaram a ser considerado pela historiografia cinematográfica o grande responsável pelo desenvolvimento e pela consolidação da linguagem do cinema, como arte independente, apesar das polêmicas ideológicas em que se envolveu. Foi ele o primeiro a fazer filmes em que se utilizou a montagem e em que certos movimentos de câmera foram usados com maestria, estabelecendo assim os parâmetros da linguagem cinematográfica, que a partir de então se universalizou. Destaque para “Intolerância”, admirado até hoje por cineastas e cinéfilos de todo o mundo. Seguidamente, certos agentes do Construtivismo russo, Dziga Vertov no documentário e Sergei Eisenstein na ficção, darão uma importante e decisiva contribuição para o desenvolvimento das técnicas narrativas e de montagem no cinema.

Em suma, os irmãos Lumière e Meliès deram origem a dois géneros fundamentais de cinema: o cinema documental e o cinema de ficção. Como forma de registrar acontecimentos ou de narrar histórias, o cinema é considerado uma arte, denominada sétima arte, desde a publicação, em 1911, do Manifesto das Sete Artes do teórico italiano Ricciotto Canudo.

Capturando imagens e som para efeitos de comunicação, o cinema também é mídia. Desde a sua origem que é arte e comércio. A indústria cinematográfica cedo se transforma em negócio lucrativo em países como a Índia e os Estados Unidos, respetivamente o maior produtor em número de filmes por ano e o que possui a maior economia cinematográfica, tanto no mercado interno quanto no volume de exportações.

No suporte em película, a projeção de imagens estáticas em sequência para criar a ilusão de movimento terá de ser de no mínimo 16 fotogramas (quadros) por segundo, para que o cérebro humano não detecte que são simples imagens isoladas. Desde 1929, juntamente com a universalização do cinema sonoro, as projeções cinematográficas no mundo inteiro foram padronizadas em 24 quadros por segundo. O cinema digital alterou este padrão. Em vídeo digital é comum o uso de 25 frames (fotogramas) por segundo e de 30 nos EUA.

Arri Alexa, uma câmera digital

Uma sala de cinema moderna

Projetor de cinema de Okada Jinsai

Auguste Lumière (esquerda) e Louis Lumière (direita).

Ensinamento de Okada Jinsai

EU E O CINEMA

Constitui fato muito bem sabido entre os fiéis o meu gosto pelo cinema. Ainda hoje procuro assistir a filmes um dia sim, um dia não. Assim, passarei a escrever a história, desde o início, de como me aficcionei pelo cinema. A primeira vez em que assisti a uma fita cinematográfica (a que na época davam o nome de fotografias animadas) contava com meus quinze ou dezesseis anos. Havia, então, no sexto distrito do Parque de Asakusa um prédio de nome Denki-Kan, provavelmente o primeiro cinema de Tóquio. Nem é preciso dizer que me assustei com o fato de as fotos se movimentarem. As ondas se moviam, um cachorro aparecia a correr, o povo caminhava pela rua! Fiquei simplesmente abismado com aquilo. “Que coisa misteriosa e interessante que inventaram!” — pensei comigo. Como morava em Asakusa na época, sempre que tinha tempo ia ver películas. Entrementes, o conteúdo destas foi evoluindo da pura e simples retratação de fatos para a sua dramatização. Simultaneamente, o prédio chamado Kinki-Kan — uma espécie de clube, um auditório público dos dias de hoje sito em Nishiki-cho, no distrito de Kanda – passou a abrigar o único cinema da região. Na época, o filme O Demônio Aloprado — uma obra da companhia cinematográfica francesa Pathé, creio — era muito interessante e comentada, lotando o cinema por dias e dias a fio. A especialidade da Pathé eram filmes de atualidades, dramas e filmes infantis, voltadas para o público em geral. Já as películas italianas, em sua grande parte, eram obras longas de cunho histórico, aparecendo mais raramente uma ou outra comédia.

Nesse meio tempo, o cine Denki-Kan, do Parque de Asakusa, ganhava mais e mais popularidade, chegando-se ao ponto de “Denki-Kan” passar a ser sinônimo de cinema. Antigamente, como o cinema era uma novidade, as casas ficavam lotadas dias e dias seguidos, e, por serem minúsculas, diferentemente das de hoje, era um sacrifício assistir aos filmes. Entrementes, o cinema em si progredia a grande velocidade, com fitas cada vez mais longas, surgindo obras interessantes. Naturalmente as películas eram mudas, influenciando grandemente nelas a perícia ou a imperícia do narrador. Lembro-me de que, na época, o famoso Saburo Somei era bastante conceituado, sendo que pouco depois o hoje conhecido Roppa Furukawa passou a atuar como seu assistente. Posteriormente, nas proximidades, apareceu a casa San-yu-Kan. Aqui exibiam-se películas cinematográficas e o chamado kineorama[1] — algo como um panorama móvel. Por meio de cores e eletricidade, criavam-se efeitos que reproduziam com perfeição os fenômenos naturais, como borrascas e trovões. Por causa disso, teve enorme aceitação entre o público, por algum tempo. Depois disso, surgiram seguidamente mais casas de exibição: Fuji-Kan, Daisho-Kan, Opera-Kan, Teikoku-Kan, Nihon-Kan e outras. Na época, foram grande sucesso de bilheteria os filmes Zigomar, Meikin, Pegaso, etc. Foi a partir de então que começaram a entrar produções americanas. Até aí, o que havia era quase que exclusivamente fitas francesas, alemãs e italianas. Na primeira vez em que assisti a um filme norte-americano, não me cansei de admirar o vigor da representação dos artistas, o tamanho dos cenários; a rapidez do tempo, etc. Isso proporcionou àquelas obras súbita popularidade. Não é de se estranhar que o cinema norte-americano tenha seduzido o público, visto que os filmes em voga, como agora, eram os de faroeste e, ainda por cima, seriados. Um faroeste que teve muito sucesso na época era um em que um dos figurantes se chamava Lolo, um tipo miúdo parecido com um japonês. Dava gosto ver sua agilidade e leveza. Por isso, cinema era sinônimo de filme americano, como acontece até hoje.

Enquanto isso, nascia a comédia típica dos Estados Unidos, angariando popularidade de todos os lados. Foi quando também surgiram Chaplin, Lloyd e Keeton, atores amados pelo público. Verdade é que bem antes disso havia no cinema italiano o comediante chamado O Novo Rei dos Patetas (Andrew), um homem diminuto. Também ele abafou por algum tempo e os antigos devem conhecê-lo. Nessa mesma época, também, apareciam de tempos em tempos obras norte-americanas de longa duração que deslumbravam os aficionados. Dentre elas, lembro ainda hoje de uma obra-prima do mestre Griffith. Fita particularmente longa — já não me recordo mais do seu título — descrevia a evolução da civilização das eras primitivas até a atualidade. O mundo inteiro vibrou com ela. Quanto às fitas italianas, a maioria era produzida pela companhia Milano. As Cruzadas, O Imperador Nero, Quo Vadis: havia obras de grande porte. Na mesma época as grandes companhias cinematográficas americanas eram a Paramount, a Fox[2], a Metro[3], a Universal e outras. Mesmo hoje não consigo esquecer da Blue Bird, pequena empresa coligada à Universal. Suas obras, ao contrário daquelas agitadas que dominavam o público, eram extraordinariamente calmas. Colocavam-se numa linha idêntica à de Ibsen, que com seu aparecimento provocou uma reviravolta de cento e oitenta graus na literatura romântica europeia: de altíssimo valor cultural, desprovidas de artifícios baratos, com temas que primavam pela seriedade. Tinham, portanto, um sabor único que me levavam a jamais perdê-las. As fitas da Brewbird eram exibidas exclusivamente em duas ou três casas de cinema: no Konparu-Kan (cujo narrador era Tenrei Takita), de Shimbashi, e no Aoi-Kan (idem, Musei Tokugawa), em Akasaka. Faziam sensação entre os fãs.

Mas retornando ao que relatei há pouco: as casas de cinemas, que no princípio se restringiam ao Parque de Asakusa, começaram a se espalhar por várias regiões da cidade e, especialmente depois do grande terremoto da Região Oriental, apareceram por todos os cantos. Ademais, o cinema japonês, que durante muito tempo só visava ao público infantil, passou, finalmente, a produzir obras para adultos. No início, nos tempos de Matsunosuke Onoe, eu não sentia a mínima vontade de ver filmes nacionais. Contudo, eu passei a assisti-los, há uns dez e tantos anos, após ver Kazuo Hasegawa, cujo nome artístico na época era Tyojiro Hayashi, interpretar Sakasaki, o Senhor de Dewa, em A Batalha de Verão, da companhia Shochiku. Esta obra, em vista de seu grande esquema e demais pontos, não fica a dever aos filmes ocidentais, fato que me assustou. Foi a oportunidade para que eu acabasse por me tornar, a partir de então, fã do cinema japonês. O resto, no que tange aos fatos mais recentes, como todos estão por dentro, terminarei meu relato.

Todavia, pretendo pôr no papel algo que sinto em relação ao cinema nacional hodierno. Diversamente dos tempos idos, o cinema japonês progrediu bastante. Contudo, — para falar francamente — resta uma faceta extremamente negativa. Quero admoestar com ênfase esse ponto. Resumindo, em primeiro lugar, trata-se da inferioridade do seu nível. Ouve-se dizer frequentemente que não se investe dinheiro nos filmes japoneses, por isso não se produzem fitas boas como as estrangeiras. Esta desculpa vem a ser um erro gravíssimo. Afirmo isso com base no fato de o cinema italiano, que recentemente passou a gozar de enorme reputação, com certeza gastar muito menos que o japonês. Tamanha reputação deve-se à existência, em algum lugar, de uma coisa que fascine tremendamente. Que seria isso? Trata-se, sem dúvida, da seriedade dos temas, inexiste qualquer artifício barato para comprar aplausos. Jamais se subestima o público. Resumindo, evita-se o caráter de espetáculo do cinema para descrever com fidelidade o ser humano, para descrever o gemido que brota do sofrimento social. Outrossim, é profunda ao extremo a sua acuidade na avaliação da dor humana, o que faz com que, terminada a apreciação de uma película, nosso peito seja assaltado pelos mais variados sentimentos.

Em comparação, nem vale a pena discutir o cinema japonês, tamanha sua infantilidade. Somente busca o efeito do espetáculo, visando demasiadamente ao lucro. O que não se percebe, porém, é que o resultado vem a ser inverso. Prova evidente é o vultoso número de fãs seduzidos pelos filmes estrangeiros, deixando o ingênuo cinema nacional de lado. Chamo, portanto, a atenção dos produtores e diretores de cinema para que mudem radicalmente, o mais rápido possível, a sua maneira de pensar. Falando sucintamente, há que elevar o nível global. Há que produzir obras que penetrem a alma do público. O espectador deve ficar amarrado à poltrona até o fim da película.

Eu – texto inédito – 1952

[1] *Kineorama: referência a cinerama.

[2] Fox: referência à companhia Twenty Century Fox.

[3] Metro: referência à companhia MGM (Metro-Goldwyn-Mayer)

Constitui fato muito bem sabido entre os fiéis o meu gosto pelo cinema. Ainda hoje procuro assistir a filmes um dia sim, um dia não. Assim, passarei a escrever a história, desde o início, de como me aficcionei pelo cinema. A primeira vez em que assisti a uma fita cinematográfica (a que na época davam o nome de fotografias animadas) contava com meus quinze ou dezesseis anos. Havia, então, no sexto distrito do Parque de Asakusa um prédio de nome Denki-Kan, provavelmente o primeiro cinema de Tóquio. Nem é preciso dizer que me assustei com o fato de as fotos se movimentarem. As ondas se moviam, um cachorro aparecia a correr, o povo caminhava pela rua! Fiquei simplesmente abismado com aquilo. “Que coisa misteriosa e interessante que inventaram!” — pensei comigo. Como morava em Asakusa na época, sempre que tinha tempo ia ver películas. Entrementes, o conteúdo destas foi evoluindo da pura e simples retratação de fatos para a sua dramatização. Simultaneamente, o prédio chamado Kinki-Kan — uma espécie de clube, um auditório público dos dias de hoje sito em Nishiki-cho, no distrito de Kanda – passou a abrigar o único cinema da região. Na época, o filme O Demônio Aloprado — uma obra da companhia cinematográfica francesa Pathé, creio — era muito interessante e comentada, lotando o cinema por dias e dias a fio. A especialidade da Pathé eram filmes de atualidades, dramas e filmes infantis, voltadas para o público em geral. Já as películas italianas, em sua grande parte, eram obras longas de cunho histórico, aparecendo mais raramente uma ou outra comédia.

Nesse meio tempo, o cine Denki-Kan, do Parque de Asakusa, ganhava mais e mais popularidade, chegando-se ao ponto de “Denki-Kan” passar a ser sinônimo de cinema. Antigamente, como o cinema era uma novidade, as casas ficavam lotadas dias e dias seguidos, e, por serem minúsculas, diferentemente das de hoje, era um sacrifício assistir aos filmes. Entrementes, o cinema em si progredia a grande velocidade, com fitas cada vez mais longas, surgindo obras interessantes. Naturalmente as películas eram mudas, influenciando grandemente nelas a perícia ou a imperícia do narrador. Lembro-me de que, na época, o famoso Saburo Somei era bastante conceituado, sendo que pouco depois o hoje conhecido Roppa Furukawa passou a atuar como seu assistente. Posteriormente, nas proximidades, apareceu a casa San-yu-Kan. Aqui exibiam-se películas cinematográficas e o chamado kineorama[1] — algo como um panorama móvel. Por meio de cores e eletricidade, criavam-se efeitos que reproduziam com perfeição os fenômenos naturais, como borrascas e trovões. Por causa disso, teve enorme aceitação entre o público, por algum tempo. Depois disso, surgiram seguidamente mais casas de exibição: Fuji-Kan, Daisho-Kan, Opera-Kan, Teikoku-Kan, Nihon-Kan e outras. Na época, foram grande sucesso de bilheteria os filmes Zigomar, Meikin, Pegaso, etc. Foi a partir de então que começaram a entrar produções americanas. Até aí, o que havia era quase que exclusivamente fitas francesas, alemãs e italianas. Na primeira vez em que assisti a um filme norte-americano, não me cansei de admirar o vigor da representação dos artistas, o tamanho dos cenários; a rapidez do tempo, etc. Isso proporcionou àquelas obras súbita popularidade. Não é de se estranhar que o cinema norte-americano tenha seduzido o público, visto que os filmes em voga, como agora, eram os de faroeste e, ainda por cima, seriados. Um faroeste que teve muito sucesso na época era um em que um dos figurantes se chamava Lolo, um tipo miúdo parecido com um japonês. Dava gosto ver sua agilidade e leveza. Por isso, cinema era sinônimo de filme americano, como acontece até hoje.

Enquanto isso, nascia a comédia típica dos Estados Unidos, angariando popularidade de todos os lados. Foi quando também surgiram Chaplin, Lloyd e Keeton, atores amados pelo público. Verdade é que bem antes disso havia no cinema italiano o comediante chamado O Novo Rei dos Patetas (Andrew), um homem diminuto. Também ele abafou por algum tempo e os antigos devem conhecê-lo. Nessa mesma época, também, apareciam de tempos em tempos obras norte-americanas de longa duração que deslumbravam os aficionados. Dentre elas, lembro ainda hoje de uma obra-prima do mestre Griffith. Fita particularmente longa — já não me recordo mais do seu título — descrevia a evolução da civilização das eras primitivas até a atualidade. O mundo inteiro vibrou com ela. Quanto às fitas italianas, a maioria era produzida pela companhia Milano. As Cruzadas, O Imperador Nero, Quo Vadis: havia obras de grande porte. Na mesma época as grandes companhias cinematográficas americanas eram a Paramount, a Fox[2], a Metro[3], a Universal e outras. Mesmo hoje não consigo esquecer da Blue Bird, pequena empresa coligada à Universal. Suas obras, ao contrário daquelas agitadas que dominavam o público, eram extraordinariamente calmas. Colocavam-se numa linha idêntica à de Ibsen, que com seu aparecimento provocou uma reviravolta de cento e oitenta graus na literatura romântica europeia: de altíssimo valor cultural, desprovidas de artifícios baratos, com temas que primavam pela seriedade. Tinham, portanto, um sabor único que me levavam a jamais perdê-las. As fitas da Brewbird eram exibidas exclusivamente em duas ou três casas de cinema: no Konparu-Kan (cujo narrador era Tenrei Takita), de Shimbashi, e no Aoi-Kan (idem, Musei Tokugawa), em Akasaka. Faziam sensação entre os fãs.

Mas retornando ao que relatei há pouco: as casas de cinemas, que no princípio se restringiam ao Parque de Asakusa, começaram a se espalhar por várias regiões da cidade e, especialmente depois do grande terremoto da Região Oriental, apareceram por todos os cantos. Ademais, o cinema japonês, que durante muito tempo só visava ao público infantil, passou, finalmente, a produzir obras para adultos. No início, nos tempos de Matsunosuke Onoe, eu não sentia a mínima vontade de ver filmes nacionais. Contudo, eu passei a assisti-los, há uns dez e tantos anos, após ver Kazuo Hasegawa, cujo nome artístico na época era Tyojiro Hayashi, interpretar Sakasaki, o Senhor de Dewa, em A Batalha de Verão, da companhia Shochiku. Esta obra, em vista de seu grande esquema e demais pontos, não fica a dever aos filmes ocidentais, fato que me assustou. Foi a oportunidade para que eu acabasse por me tornar, a partir de então, fã do cinema japonês. O resto, no que tange aos fatos mais recentes, como todos estão por dentro, terminarei meu relato.

Todavia, pretendo pôr no papel algo que sinto em relação ao cinema nacional hodierno. Diversamente dos tempos idos, o cinema japonês progrediu bastante. Contudo, — para falar francamente — resta uma faceta extremamente negativa. Quero admoestar com ênfase esse ponto. Resumindo, em primeiro lugar, trata-se da inferioridade do seu nível. Ouve-se dizer frequentemente que não se investe dinheiro nos filmes japoneses, por isso não se produzem fitas boas como as estrangeiras. Esta desculpa vem a ser um erro gravíssimo. Afirmo isso com base no fato de o cinema italiano, que recentemente passou a gozar de enorme reputação, com certeza gastar muito menos que o japonês. Tamanha reputação deve-se à existência, em algum lugar, de uma coisa que fascine tremendamente. Que seria isso? Trata-se, sem dúvida, da seriedade dos temas, inexiste qualquer artifício barato para comprar aplausos. Jamais se subestima o público. Resumindo, evita-se o caráter de espetáculo do cinema para descrever com fidelidade o ser humano, para descrever o gemido que brota do sofrimento social. Outrossim, é profunda ao extremo a sua acuidade na avaliação da dor humana, o que faz com que, terminada a apreciação de uma película, nosso peito seja assaltado pelos mais variados sentimentos.

Em comparação, nem vale a pena discutir o cinema japonês, tamanha sua infantilidade. Somente busca o efeito do espetáculo, visando demasiadamente ao lucro. O que não se percebe, porém, é que o resultado vem a ser inverso. Prova evidente é o vultoso número de fãs seduzidos pelos filmes estrangeiros, deixando o ingênuo cinema nacional de lado. Chamo, portanto, a atenção dos produtores e diretores de cinema para que mudem radicalmente, o mais rápido possível, a sua maneira de pensar. Falando sucintamente, há que elevar o nível global. Há que produzir obras que penetrem a alma do público. O espectador deve ficar amarrado à poltrona até o fim da película.

Eu – texto inédito – 1952

[1] *Kineorama: referência a cinerama.

[2] Fox: referência à companhia Twenty Century Fox.

[3] Metro: referência à companhia MGM (Metro-Goldwyn-Mayer)

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