Construção
Na Terra do Mistério Divino, acima da Casa de Contemplação da Montanha, havia uma casinha feita de sapé, que o Mestre Jinsai denominou Tori-no-Ya (Casa dos Pássaros). Era uma das casas de aluguel que ali existiam na época do jardim japonês, tendo servido, durante alguns anos, como local de descanso dos fiéis que vinham para as entrevistas com o Mestre Jinsai. Entretanto, após a construção do Palácio da Luz do Sol, em 1948, ela já não era tão utilizada; além disso, estava muito velha. Sendo assim, ficou decidido que seria demolida. O material aproveitável foi empregado na construção da sede da Grande Igreja Taissei, situada perto da Terra Divina. Isso aconteceu no final de 1950.
A Casa dos Pássaros tinha uma área de aproximadamente 100 m2; todavia, depois que ela foi posta abaixo, o terreno ficou com uma área bem plana e ampla. O Mestre Jinsai teve, então, a ideia de construir ali um museu de Arte. A esse respeito ele escreveu mais tarde: “Com a demolição da casa, formou-se um terreno livre de 500 m2 mais ou menos, e eu fiquei pensando em construir algo adequado ao lugar. De repente, me veio à cabeça a ideia da construção de um museu de Arte. O terreno era um pouco pequeno para isso, mas sua localização e o ambiente à sua volta eram excelentes. Então, em meu íntimo, tomei a decisão de construir o museu. Ora, ainda que pequeno, um museu de Arte não se faz com pouco dinheiro, e eu não tinha previsão de obter os recursos suficientes num futuro imediato. No entanto, achando que, se pelo menos deixasse o terreno preparado, acabaria chegando o momento de poder dar início à construção, pus mãos à obra. O trabalho ficou praticamente terminado no verão de 1951. Aí, a vontade de construir logo o museu tornou-se tão intensa, que, sem esperar mais tempo, consultei Abe[1]] sobre a viabilidade do plano. “Se é assim, vou estudar o assunto imediatamente”, disse ele. De acordo com a pesquisa feita, vimos que o plano não era tão difícil de ser concretizado, como pensávamos. Confiando em que Deus daria um jeito em tudo, iniciamos a obra em outubro daquele mesmo ano.”
De acordo com o projeto do Mestre Jinsai, o museu teria dois andares; seria um prédio simples, em estilo chinês, com paredes brancas e telhado azul, tendo uma área de aproximadamente 880 m2. Haveria seis salas de exposição, sendo três no térreo e três no primeiro andar; no segundo, seriam construídos dois cômodos em estilo japonês, um de 24,30 m2 e outro de 9,72 m2. A construção e as instalações eram projetos do próprio Mestre Jinsai.
Desde que teve início, em outubro, a construção avançou com uma rapidez incrível; nos meados de novembro, os alicerces e a estrutura já estavam prontos. Em dezembro, iniciou-se a concretagem do piso dos dois pavimentos; no primeiro, o trabalho foi feito em vinte e quatro horas ininterruptas. Entre os fiéis que vieram de todo o país para dedicar na construção do museu, escolheram-se, logicamente, os homens mais fortes, mas, graças ao poder da fé, puderam ser executados até mesmo os trabalhos que, pelo senso comum, pareciam impossíveis, surpreendendo inclusive aqueles que o executaram.
Concluída a parte externa, teve início o revestimento interno, em março de 1952.
No mês de outubro, como acontecia todos os anos, o Mestre Jinsai fora para Atami. Entretanto, várias vezes por mês pegava um carro e ia à Terra Divina inspecionar a obra. Seus passos eram bem leves. Às vezes ele parava e dava instruções minuciosas. Quando, por exemplo, iam começar a construir a entrada das salas de exposição, falou: “Na planta ela está muito larga. Que tal estreitá-la um pouco?” Imediatamente foi montado um caixilho de madeira na medida prevista. O Mestre Jinsai mandou que o colocassem no lugar da entrada; experimentou entrar e sair, para definir a medida exata. O mesmo aconteceu com o telhado. Ele estudou bastante para lhe definir a curvatura e a cor. Depois de observar as telhas de diversas casas, escolheu a cor do seu agrado e mandou confeccioná-las através de um pedido especial.
O Mestre Jinsai dispensou todo o cuidado às salas japonesas do segundo andar, que seriam utilizadas como salas de visitas. Na porta do lado leste, que dá à montanha da letra Dai (“Grande”), foi colocada, entre a veneziana e o vidro, uma armação corrediça, de madeira e papel, para dar um toque mais suave ao ambiente. Ela foi estudada através de vários modelos, elaborados com o objetivo de se observar a espessura das linhas da porta e o espaço entre estas, de modo que a armação se harmonizasse com todo o cômodo. O Mestre Jinsai determinou, ainda, que o teto fosse quadrangular, de paulóvnia; que as portas tivessem motivos de xadrez dourado e prateado; que fossem plantados pequenos pés de bambu na parte leste da sala e que, por entre as folhas dos bambus, se pudesse avistar a montanha acima referida. Enfim, ele se preocupou com cada recanto. As linhas desenhadas pelo próprio Mestre Jinsai, no trecho da parede acima da porta, simbolizam nuvens auspiciosas; mais tarde, o desenho foi utilizado na cortina do Templo Messiânico.
A dedicada inspeção do Mestre Jinsai impulsionava o andamento da obra. Além disso, vendo sua postura em relação aos futuros visitantes e sua preocupação com os mínimos detalhes, os dedicantes aprenderam a sinceridade que se deve ter para com a Obra Divina e assim, solidificaram sua fé. Quando ele percorria as obras, todos paravam o trabalho para cumprimentá-lo. O Mestre Jinsai respondia ao cumprimento levantando um pouco o chapéu e fazendo uma leve reverência. Às vezes, para desfazer a tensão dos fiéis, perguntava-lhes carinhosamente: “De onde você veio?” “Até quando irá ficar?” etc. Eram palavras simples, sem qualquer exibicionismo ou ostentação. Devido ao nervosismo, os fiéis geralmente davam respostas trêmulas, às cegas, suando pelo corpo inteiro, mas depois sentiam o grande amor do Mestre e ficavam profundamente emocionados.
Em 1951, quando foi anunciada a limitação da construção de prédios grandes, determinada por regulamento baixado pelo Quartel General das Tropas de Ocupação, todos se puseram a trabalhar como loucos. Isto porque só os prédios que já tivessem recebido cobertura até o dia estipulado pelo regulamento estariam a salvo. Então, para que o telhado ficasse pronto até essa data, por diversas vezes a concretagem se prolongou noite adentro, no período de novembro a dezembro, contando-se, inclusive, com a participação dos dedicantes encarregados da cozinha, que se ofereceram voluntariamente para carregar pedras e areia. Se já era pesado executar o trabalho durante o dia, continuá-lo à noite era desgastante. Mas Deus correspondeu a essa sincera dedicação de todos. Na montanha, especialmente quando o céu está limpo, as noites de inverno são muito rigorosas; nos dias, porém, em que o trabalho se prolongava pela madrugada, o céu cobria-se de nuvens e a temperatura tornava-se mais amena. Sentindo na pele a proteção de Deus, os dedicantes trabalhavam com alegria, por verem a Obra Divina se desenvolver passo a passo.
Em maio de 1952, quando o Mestre Jinsai se mudou de Atami para Hakone, o museu já estava noventa por cento concluído. Sua figura simples e clara destacava-se entre o verde da primavera, diante do Monte Soun. Diariamente o Mestre Jinsai ia até lá e, sem se importar com os estilhaços de madeira espalhados por todos os cantos, percorria a obra examinando tudo cuidadosamente. Desde que se iniciara a construção do museu, ele passara a falar cada vez mais, durante as entrevistas com os fiéis, sobre assuntos relacionados às belas-artes, repetindo frases como estas: “O Museu de Arte de Hakone é o Palácio do Belo que irá apresentar a arte do Japão ao mundo. Quando ele estiver pronto, tornar-se-á conhecido também no exterior e provavelmente muitos estrangeiros virão visitá-lo.”
Numa época em que nem mesmo o governo pôde evitar o êxodo de um grande número de obras-primas da arte japonesa para o exterior, tendo-se limitado a observar em silêncio, o grandioso plano do Mestre Jinsai protegeu antecipadamente as artes tradicionais do país, colocando muitas dessas obras ao alcance do povo e divulgando o verdadeiro valor da cultura japonesa dentro e fora do Japão. Dessa forma, ele abriu os olhos dos fiéis, que até então demonstravam pouco interesse pelas belas-artes.
A respeito do significado do Museu de Arte de Hakone dentro da Obra Divina, o Mestre Jinsai disse: “Ele também é um modelo da Obra Divina. É um símbolo do Paraíso Terrestre. Com o término dessa construção, estará concluído o protótipo do Paraíso Terrestre de Hakone e, com o passar do tempo, se processará o desenvolvimento da construção do Paraíso em escala mundial.” Cada vez que ouviam palavras como essas, os fiéis tornavam-se mais conscientes de que estavam tendo permissão de participar da mais elevada Obra Divina, e seus corações se enchiam de orgulho e alegria.
Às pessoas que deram uma contribuição destacada para a construção do Museu de Arte de Hakone, o Mestre Jinsai ofereceu quadros com caligrafias suas, feitas especialmente para recompensar o trabalho por elas executado. Esses quadros, mais de trinta, eram escritos em sentido vertical, numa linha apenas, sendo próprios para salas de cerimônia de chá. Ele costumava fazer caligrafias com uma rapidez incrível; dessa vez, entretanto, escolheu, uma a uma, letras diferentes, e levou tempo para escrevê-las.
Inauguração
Concluído o prédio, no dia 10 de junho de 1952, começaram a ser instaladas as vitrines; no dia 11, teve início a disposição das obras que seriam expostas. Nesse período, o Mestre Jinsai passava o dia todo no museu, ordenando as peças e dirigindo o preparo da exposição. Tomava cuidado até com o lugar onde ficaria o cartão contendo explicações sobre o objeto. Nessa oportunidade, ele também contou com a ajuda de vários comerciantes de obras de arte. À medida que os objetos iam sendo colocados em seus lugares, volta e meia um deles deparava com uma peça muito valiosa que soubera estar à venda, e, mostrando espanto, dizia: Ah, esta também veio parar aqui?!” Palavras desse gênero eram ouvidas a todo momento, e, enquanto trabalhavam, os negociantes mantinham com o Mestre Jinsai uma conversa alegre que não tinha fim.
No dia 14 de junho, véspera da inauguração do museu, o Mestre, esquecendo-se de jantar, ficou estudando cuidadosamente a disposição das peças até depois das vinte horas. Segurando-as com as duas mãos e dispondo-as com o maior zelo, atento à direção dos desenhos e à harmonia com a vitrine, ele transmitia uma imagem repleta de alegria, por finalmente ver realizar-se um sonho acalentado há longa data.
Após determinar a colocação dos objetos, o Mestre Jinsai voltou para a Casa de Contemplação da Montanha; por volta das 23 horas, entretanto, retornou ao museu, acompanhado de Yoshi. Nas vitrines, claramente iluminadas pelas lâmpadas, estavam dispostas inúmeras obras-primas colecionadas por ele. Esquecido de que a noite ia avançando, contemplou obra por obra, parecendo conversar com elas. Quando acabou de percorrer todas as salas, já era quase uma hora da madrugada. Pela maneira como o Mestre Jinsai olhava e tornava a olhar para trás e ao seu redor, ao deixar o museu, até mesmo os funcionários que ali se encontravam sentiram o quanto ele estava contente por vê-lo concluído e como ansiava pela sua inauguração.
As cerimônias comemorativas da inauguração do Museu de Arte e da conclusão do protótipo do Paraíso Terrestre de Hakone foram realizadas durante três dias, a partir de 15 de junho de 1952. Esse museu é o ponto chave da Terra Divina e sua abertura representa a conclusão da primeira etapa do protótipo do Paraíso Terrestre. Para aquele acontecimento, o Mestre Jinsai compôs dezoito poemas, entre os quais os que se seguem:
“Não esqueça que,
De acordo com a Vontade Divina,
O País do Sol Nascente
Está determinado
Para ser o País do Belo.”
“Para purificar
Este mundo cheio de impurezas,
Construí o Palácio do Belo
Nas terras puras de Hakone.”
“Para construir um mundo
De perfeita Verdade, Bem e Belo,
Estou manifestando
O Poder Divino.”
As dezoito composições foram entoadas vigorosamente, em forma de salmo, pelos milhares de fiéis que assistiram aos Cultos, realizados nos dias 15, 16 e 17. Em todos eles o Mestre Jinsai fez uma palestra sobre o significado da conclusão do museu e sobre a Vontade de Deus encerrada nessa obra. Eram palavras radiantes e vigorosas, que mostravam o largo avanço da Obra Divina dali para a frente. Após cada Culto, os fiéis se dirigiam para o museu e, muito comovidos, apreciavam as obras expostas.
O Museu de Arte de Hakone foi aberto aos fiéis antes de ser franqueado aos convidados de fora, num cuidado inexprimível através de palavras. Consciente de que ele fora concluído graças à sinceridade dos fiéis, que procuraram corresponder à sua vontade, o Mestre Jinsai quis compartilhar sua alegria primeiramente com eles, para lher louvar o mérito. Duas semanas depois, do dia 29 de junho ao dia 1º de julho, agora com a presença não só de ilustres personalidades do mundo político, cultural, artístico, informativo etc., mas também de autoridades locais, o museu foi apresentado à coletividade, expondo-se o objetivo de sua instituição.
Para a solenidade do dia 29, foram convidadas inúmeras personalidades de Hakone, Atami e Odawara, e pessoas ligadas à Federação Japonesa de Religiões e à Associação das Novas Entidades Religiosas Japonesas. O dia 30 foi reservado para pessoas ligadas à Arte e representantes da imprensa. Estavam presentes os escritores Kawabata Yassunari, Takami Jun, Niwa Fumio e Yoshiya Nobuko, o calígrafo Onoe Saishu, o escultor Hiragushi Dentyu, o artesão de maki-e Matsuda Gonroku, os pintores Takabatake Tatsushiro, Fukushima Shiguetaro, Kawabata Ryushi e Nakagawa Kazumassa, o arquiteto Yoshida Issoya, o instrumentista de shamissen Kineya Eizo, o mestre de dança Ito Mitio, o apresentador de programas radiofônicos Tokugawa Mussei, o diretor do Departamento Cultural da Universidade Hossei (posteriormente reitor da mesma Universidade) e o crítico de Arte Tanigawa Tetsuzo. Da imprensa, assistiram à cerimônia, entre outros, Sassaki Mossaku, presidente da revista Bunguei Shunju; Hirose, redator-chefe do Jornal Mainiti; Nishikawa, redator-chefe do jornal Tokyo Hibi, e Nakayama, redator-chefe do Jornal Fotográfico Sun. Além dessas pessoas, estiveram presentes alguns membros da Comissão Especial de Avaliação do Patrimônio Cultural e também Matsuda Kojiro, presidente da Loja Haku Botan e amigo íntimo do Mestre Jinsai desde a época em que este era empresário.
Para o dia 1º de julho foram convidados diplomatas estrangeiros atuantes no Japão e mais algumas personalidades do mundo das belas-artes. Compareceram elementos da Embaixada da França e da Itália, alguns membros da Associação de Arte Oriental e do Museu Histórico Nacional, o deputado federal Dan Ino e também Takada Koin, representante de Hashimoto Gyoin, bonzo-chefe do Templo Yakushi-ji, cargo este ocupado, atualmente, por Takada.
No convite que enviou a essas pessoas, o Mestre Jinsai apresentou-se como diretor do museu. Tokugawa Mussei, um dos convidados, disse que, ao ver escrito no convite “Okada Mokiti – diretor do Museu de Arte” e não “Líder Espiritual da Sekai Meshiya Kyo” ou “Senhor da Luz”, sentiu que o coração do Mestre Jinsai era puro como o de um menino, e que ele estava plenamente satisfeito com aquela designação.
No dia 1º de julho, depois de saudar os presentes, o Mestre falou sobre o significado do museu. Fez a palestra girar em torno do aspecto cultural não só dessa construção, mas também da construção do Solo Sagrado. Começou dizendo que a Religião, como se pode ver pela História Universal, é a mãe da Arte, e que o seu objetivo original é construir um mundo belo, além de verdadeiro e bom. Acrescentou que a missão do Japão é contribuir para a formação de uma cultura elevada, deleitando os povos de todo o mundo através do Belo. Para concluir, o Mestre Jinsai explicou que construiu os pequenos paraísos do Belo, em Hakone e Atami, com a intenção de concretizar o objetivo original da Religião, trazendo, assim, uma importante ajuda para o Japão cumprir a missão que Deus lhe atribuiu.
De fato, o Museu de Arte de Hakone foi construído com o propósito de liberar as obras de arte, que, desde os tempos antigos, eram propriedade exclusiva das classes dominantes. Esse propósito do Mestre Jinsai, baseado na firme crença de que a apreciação de tais obras elevaria a espiritualidade do povo, foi elogiado pelo escritor Nagayo Yoshiro. Respondendo à saudação do Mestre como representante dos convidados, Nagayo disse que ficou muito impressionado com a magnífica ideia que ele tivera de colocar o Belo ao alcance do povo e com a sua extraordinária capacidade de ação.
Nesse dia, o próprio Mestre Jinsai serviu de cicerone e, valendo-se de tudo aquilo que aprendera durante longos anos, deu explicações pormenorizadas sobre cada obra. Os visitantes, que entendiam muito de belas-artes, ficaram surpresos com a profundidade dos seus conhecimentos e com a sua aguçada sensibilidade, expressa através da apreensão da essência das obras expostas. Essas explicações estavam baseadas no sentimento do Mestre Jinsai, o qual não se cansava de admirar o Belo, e na emoção que este lhe fazia afluir naturalmente. Sua alegria e seu entusiasmo irradiavam-se por todo o museu, e as pessoas passaram um dia alegre, concentradas na Arte.
[1] Secretário do Mestre Jinsai na época em que foi construído o Museu de Arte de Hakone.
Construção
Na Terra do Mistério Divino, acima da Casa de Contemplação da Montanha, havia uma casinha feita de sapé, que o Mestre Jinsai denominou Tori-no-Ya (Casa dos Pássaros). Era uma das casas de aluguel que ali existiam na época do jardim japonês, tendo servido, durante alguns anos, como local de descanso dos fiéis que vinham para as entrevistas com o Mestre Jinsai. Entretanto, após a construção do Palácio da Luz do Sol, em 1948, ela já não era tão utilizada; além disso, estava muito velha. Sendo assim, ficou decidido que seria demolida. O material aproveitável foi empregado na construção da sede da Grande Igreja Taissei, situada perto da Terra Divina. Isso aconteceu no final de 1950.
A Casa dos Pássaros tinha uma área de aproximadamente 100 m2; todavia, depois que ela foi posta abaixo, o terreno ficou com uma área bem plana e ampla. O Mestre Jinsai teve, então, a ideia de construir ali um museu de Arte. A esse respeito ele escreveu mais tarde: “Com a demolição da casa, formou-se um terreno livre de 500 m2 mais ou menos, e eu fiquei pensando em construir algo adequado ao lugar. De repente, me veio à cabeça a ideia da construção de um museu de Arte. O terreno era um pouco pequeno para isso, mas sua localização e o ambiente à sua volta eram excelentes. Então, em meu íntimo, tomei a decisão de construir o museu. Ora, ainda que pequeno, um museu de Arte não se faz com pouco dinheiro, e eu não tinha previsão de obter os recursos suficientes num futuro imediato. No entanto, achando que, se pelo menos deixasse o terreno preparado, acabaria chegando o momento de poder dar início à construção, pus mãos à obra. O trabalho ficou praticamente terminado no verão de 1951. Aí, a vontade de construir logo o museu tornou-se tão intensa, que, sem esperar mais tempo, consultei Abe[1]] sobre a viabilidade do plano. “Se é assim, vou estudar o assunto imediatamente”, disse ele. De acordo com a pesquisa feita, vimos que o plano não era tão difícil de ser concretizado, como pensávamos. Confiando em que Deus daria um jeito em tudo, iniciamos a obra em outubro daquele mesmo ano.”
De acordo com o projeto do Mestre Jinsai, o museu teria dois andares; seria um prédio simples, em estilo chinês, com paredes brancas e telhado azul, tendo uma área de aproximadamente 880 m2. Haveria seis salas de exposição, sendo três no térreo e três no primeiro andar; no segundo, seriam construídos dois cômodos em estilo japonês, um de 24,30 m2 e outro de 9,72 m2. A construção e as instalações eram projetos do próprio Mestre Jinsai.
Desde que teve início, em outubro, a construção avançou com uma rapidez incrível; nos meados de novembro, os alicerces e a estrutura já estavam prontos. Em dezembro, iniciou-se a concretagem do piso dos dois pavimentos; no primeiro, o trabalho foi feito em vinte e quatro horas ininterruptas. Entre os fiéis que vieram de todo o país para dedicar na construção do museu, escolheram-se, logicamente, os homens mais fortes, mas, graças ao poder da fé, puderam ser executados até mesmo os trabalhos que, pelo senso comum, pareciam impossíveis, surpreendendo inclusive aqueles que o executaram.
Concluída a parte externa, teve início o revestimento interno, em março de 1952.
No mês de outubro, como acontecia todos os anos, o Mestre Jinsai fora para Atami. Entretanto, várias vezes por mês pegava um carro e ia à Terra Divina inspecionar a obra. Seus passos eram bem leves. Às vezes ele parava e dava instruções minuciosas. Quando, por exemplo, iam começar a construir a entrada das salas de exposição, falou: “Na planta ela está muito larga. Que tal estreitá-la um pouco?” Imediatamente foi montado um caixilho de madeira na medida prevista. O Mestre Jinsai mandou que o colocassem no lugar da entrada; experimentou entrar e sair, para definir a medida exata. O mesmo aconteceu com o telhado. Ele estudou bastante para lhe definir a curvatura e a cor. Depois de observar as telhas de diversas casas, escolheu a cor do seu agrado e mandou confeccioná-las através de um pedido especial.
O Mestre Jinsai dispensou todo o cuidado às salas japonesas do segundo andar, que seriam utilizadas como salas de visitas. Na porta do lado leste, que dá à montanha da letra Dai (“Grande”), foi colocada, entre a veneziana e o vidro, uma armação corrediça, de madeira e papel, para dar um toque mais suave ao ambiente. Ela foi estudada através de vários modelos, elaborados com o objetivo de se observar a espessura das linhas da porta e o espaço entre estas, de modo que a armação se harmonizasse com todo o cômodo. O Mestre Jinsai determinou, ainda, que o teto fosse quadrangular, de paulóvnia; que as portas tivessem motivos de xadrez dourado e prateado; que fossem plantados pequenos pés de bambu na parte leste da sala e que, por entre as folhas dos bambus, se pudesse avistar a montanha acima referida. Enfim, ele se preocupou com cada recanto. As linhas desenhadas pelo próprio Mestre Jinsai, no trecho da parede acima da porta, simbolizam nuvens auspiciosas; mais tarde, o desenho foi utilizado na cortina do Templo Messiânico.
A dedicada inspeção do Mestre Jinsai impulsionava o andamento da obra. Além disso, vendo sua postura em relação aos futuros visitantes e sua preocupação com os mínimos detalhes, os dedicantes aprenderam a sinceridade que se deve ter para com a Obra Divina e assim, solidificaram sua fé. Quando ele percorria as obras, todos paravam o trabalho para cumprimentá-lo. O Mestre Jinsai respondia ao cumprimento levantando um pouco o chapéu e fazendo uma leve reverência. Às vezes, para desfazer a tensão dos fiéis, perguntava-lhes carinhosamente: “De onde você veio?” “Até quando irá ficar?” etc. Eram palavras simples, sem qualquer exibicionismo ou ostentação. Devido ao nervosismo, os fiéis geralmente davam respostas trêmulas, às cegas, suando pelo corpo inteiro, mas depois sentiam o grande amor do Mestre e ficavam profundamente emocionados.
Em 1951, quando foi anunciada a limitação da construção de prédios grandes, determinada por regulamento baixado pelo Quartel General das Tropas de Ocupação, todos se puseram a trabalhar como loucos. Isto porque só os prédios que já tivessem recebido cobertura até o dia estipulado pelo regulamento estariam a salvo. Então, para que o telhado ficasse pronto até essa data, por diversas vezes a concretagem se prolongou noite adentro, no período de novembro a dezembro, contando-se, inclusive, com a participação dos dedicantes encarregados da cozinha, que se ofereceram voluntariamente para carregar pedras e areia. Se já era pesado executar o trabalho durante o dia, continuá-lo à noite era desgastante. Mas Deus correspondeu a essa sincera dedicação de todos. Na montanha, especialmente quando o céu está limpo, as noites de inverno são muito rigorosas; nos dias, porém, em que o trabalho se prolongava pela madrugada, o céu cobria-se de nuvens e a temperatura tornava-se mais amena. Sentindo na pele a proteção de Deus, os dedicantes trabalhavam com alegria, por verem a Obra Divina se desenvolver passo a passo.
Em maio de 1952, quando o Mestre Jinsai se mudou de Atami para Hakone, o museu já estava noventa por cento concluído. Sua figura simples e clara destacava-se entre o verde da primavera, diante do Monte Soun. Diariamente o Mestre Jinsai ia até lá e, sem se importar com os estilhaços de madeira espalhados por todos os cantos, percorria a obra examinando tudo cuidadosamente. Desde que se iniciara a construção do museu, ele passara a falar cada vez mais, durante as entrevistas com os fiéis, sobre assuntos relacionados às belas-artes, repetindo frases como estas: “O Museu de Arte de Hakone é o Palácio do Belo que irá apresentar a arte do Japão ao mundo. Quando ele estiver pronto, tornar-se-á conhecido também no exterior e provavelmente muitos estrangeiros virão visitá-lo.”
Numa época em que nem mesmo o governo pôde evitar o êxodo de um grande número de obras-primas da arte japonesa para o exterior, tendo-se limitado a observar em silêncio, o grandioso plano do Mestre Jinsai protegeu antecipadamente as artes tradicionais do país, colocando muitas dessas obras ao alcance do povo e divulgando o verdadeiro valor da cultura japonesa dentro e fora do Japão. Dessa forma, ele abriu os olhos dos fiéis, que até então demonstravam pouco interesse pelas belas-artes.
A respeito do significado do Museu de Arte de Hakone dentro da Obra Divina, o Mestre Jinsai disse: “Ele também é um modelo da Obra Divina. É um símbolo do Paraíso Terrestre. Com o término dessa construção, estará concluído o protótipo do Paraíso Terrestre de Hakone e, com o passar do tempo, se processará o desenvolvimento da construção do Paraíso em escala mundial.” Cada vez que ouviam palavras como essas, os fiéis tornavam-se mais conscientes de que estavam tendo permissão de participar da mais elevada Obra Divina, e seus corações se enchiam de orgulho e alegria.
Às pessoas que deram uma contribuição destacada para a construção do Museu de Arte de Hakone, o Mestre Jinsai ofereceu quadros com caligrafias suas, feitas especialmente para recompensar o trabalho por elas executado. Esses quadros, mais de trinta, eram escritos em sentido vertical, numa linha apenas, sendo próprios para salas de cerimônia de chá. Ele costumava fazer caligrafias com uma rapidez incrível; dessa vez, entretanto, escolheu, uma a uma, letras diferentes, e levou tempo para escrevê-las.
Inauguração
Concluído o prédio, no dia 10 de junho de 1952, começaram a ser instaladas as vitrines; no dia 11, teve início a disposição das obras que seriam expostas. Nesse período, o Mestre Jinsai passava o dia todo no museu, ordenando as peças e dirigindo o preparo da exposição. Tomava cuidado até com o lugar onde ficaria o cartão contendo explicações sobre o objeto. Nessa oportunidade, ele também contou com a ajuda de vários comerciantes de obras de arte. À medida que os objetos iam sendo colocados em seus lugares, volta e meia um deles deparava com uma peça muito valiosa que soubera estar à venda, e, mostrando espanto, dizia: Ah, esta também veio parar aqui?!” Palavras desse gênero eram ouvidas a todo momento, e, enquanto trabalhavam, os negociantes mantinham com o Mestre Jinsai uma conversa alegre que não tinha fim.
No dia 14 de junho, véspera da inauguração do museu, o Mestre, esquecendo-se de jantar, ficou estudando cuidadosamente a disposição das peças até depois das vinte horas. Segurando-as com as duas mãos e dispondo-as com o maior zelo, atento à direção dos desenhos e à harmonia com a vitrine, ele transmitia uma imagem repleta de alegria, por finalmente ver realizar-se um sonho acalentado há longa data.
Após determinar a colocação dos objetos, o Mestre Jinsai voltou para a Casa de Contemplação da Montanha; por volta das 23 horas, entretanto, retornou ao museu, acompanhado de Yoshi. Nas vitrines, claramente iluminadas pelas lâmpadas, estavam dispostas inúmeras obras-primas colecionadas por ele. Esquecido de que a noite ia avançando, contemplou obra por obra, parecendo conversar com elas. Quando acabou de percorrer todas as salas, já era quase uma hora da madrugada. Pela maneira como o Mestre Jinsai olhava e tornava a olhar para trás e ao seu redor, ao deixar o museu, até mesmo os funcionários que ali se encontravam sentiram o quanto ele estava contente por vê-lo concluído e como ansiava pela sua inauguração.
As cerimônias comemorativas da inauguração do Museu de Arte e da conclusão do protótipo do Paraíso Terrestre de Hakone foram realizadas durante três dias, a partir de 15 de junho de 1952. Esse museu é o ponto chave da Terra Divina e sua abertura representa a conclusão da primeira etapa do protótipo do Paraíso Terrestre. Para aquele acontecimento, o Mestre Jinsai compôs dezoito poemas, entre os quais os que se seguem:
“Não esqueça que,
De acordo com a Vontade Divina,
O País do Sol Nascente
Está determinado
Para ser o País do Belo.”
“Para purificar
Este mundo cheio de impurezas,
Construí o Palácio do Belo
Nas terras puras de Hakone.”
“Para construir um mundo
De perfeita Verdade, Bem e Belo,
Estou manifestando
O Poder Divino.”
As dezoito composições foram entoadas vigorosamente, em forma de salmo, pelos milhares de fiéis que assistiram aos Cultos, realizados nos dias 15, 16 e 17. Em todos eles o Mestre Jinsai fez uma palestra sobre o significado da conclusão do museu e sobre a Vontade de Deus encerrada nessa obra. Eram palavras radiantes e vigorosas, que mostravam o largo avanço da Obra Divina dali para a frente. Após cada Culto, os fiéis se dirigiam para o museu e, muito comovidos, apreciavam as obras expostas.
O Museu de Arte de Hakone foi aberto aos fiéis antes de ser franqueado aos convidados de fora, num cuidado inexprimível através de palavras. Consciente de que ele fora concluído graças à sinceridade dos fiéis, que procuraram corresponder à sua vontade, o Mestre Jinsai quis compartilhar sua alegria primeiramente com eles, para lher louvar o mérito. Duas semanas depois, do dia 29 de junho ao dia 1º de julho, agora com a presença não só de ilustres personalidades do mundo político, cultural, artístico, informativo etc., mas também de autoridades locais, o museu foi apresentado à coletividade, expondo-se o objetivo de sua instituição.
Para a solenidade do dia 29, foram convidadas inúmeras personalidades de Hakone, Atami e Odawara, e pessoas ligadas à Federação Japonesa de Religiões e à Associação das Novas Entidades Religiosas Japonesas. O dia 30 foi reservado para pessoas ligadas à Arte e representantes da imprensa. Estavam presentes os escritores Kawabata Yassunari, Takami Jun, Niwa Fumio e Yoshiya Nobuko, o calígrafo Onoe Saishu, o escultor Hiragushi Dentyu, o artesão de maki-e Matsuda Gonroku, os pintores Takabatake Tatsushiro, Fukushima Shiguetaro, Kawabata Ryushi e Nakagawa Kazumassa, o arquiteto Yoshida Issoya, o instrumentista de shamissen Kineya Eizo, o mestre de dança Ito Mitio, o apresentador de programas radiofônicos Tokugawa Mussei, o diretor do Departamento Cultural da Universidade Hossei (posteriormente reitor da mesma Universidade) e o crítico de Arte Tanigawa Tetsuzo. Da imprensa, assistiram à cerimônia, entre outros, Sassaki Mossaku, presidente da revista Bunguei Shunju; Hirose, redator-chefe do Jornal Mainiti; Nishikawa, redator-chefe do jornal Tokyo Hibi, e Nakayama, redator-chefe do Jornal Fotográfico Sun. Além dessas pessoas, estiveram presentes alguns membros da Comissão Especial de Avaliação do Patrimônio Cultural e também Matsuda Kojiro, presidente da Loja Haku Botan e amigo íntimo do Mestre Jinsai desde a época em que este era empresário.
Para o dia 1º de julho foram convidados diplomatas estrangeiros atuantes no Japão e mais algumas personalidades do mundo das belas-artes. Compareceram elementos da Embaixada da França e da Itália, alguns membros da Associação de Arte Oriental e do Museu Histórico Nacional, o deputado federal Dan Ino e também Takada Koin, representante de Hashimoto Gyoin, bonzo-chefe do Templo Yakushi-ji, cargo este ocupado, atualmente, por Takada.
No convite que enviou a essas pessoas, o Mestre Jinsai apresentou-se como diretor do museu. Tokugawa Mussei, um dos convidados, disse que, ao ver escrito no convite “Okada Mokiti – diretor do Museu de Arte” e não “Líder Espiritual da Sekai Meshiya Kyo” ou “Senhor da Luz”, sentiu que o coração do Mestre Jinsai era puro como o de um menino, e que ele estava plenamente satisfeito com aquela designação.
No dia 1º de julho, depois de saudar os presentes, o Mestre falou sobre o significado do museu. Fez a palestra girar em torno do aspecto cultural não só dessa construção, mas também da construção do Solo Sagrado. Começou dizendo que a Religião, como se pode ver pela História Universal, é a mãe da Arte, e que o seu objetivo original é construir um mundo belo, além de verdadeiro e bom. Acrescentou que a missão do Japão é contribuir para a formação de uma cultura elevada, deleitando os povos de todo o mundo através do Belo. Para concluir, o Mestre Jinsai explicou que construiu os pequenos paraísos do Belo, em Hakone e Atami, com a intenção de concretizar o objetivo original da Religião, trazendo, assim, uma importante ajuda para o Japão cumprir a missão que Deus lhe atribuiu.
De fato, o Museu de Arte de Hakone foi construído com o propósito de liberar as obras de arte, que, desde os tempos antigos, eram propriedade exclusiva das classes dominantes. Esse propósito do Mestre Jinsai, baseado na firme crença de que a apreciação de tais obras elevaria a espiritualidade do povo, foi elogiado pelo escritor Nagayo Yoshiro. Respondendo à saudação do Mestre como representante dos convidados, Nagayo disse que ficou muito impressionado com a magnífica ideia que ele tivera de colocar o Belo ao alcance do povo e com a sua extraordinária capacidade de ação.
Nesse dia, o próprio Mestre Jinsai serviu de cicerone e, valendo-se de tudo aquilo que aprendera durante longos anos, deu explicações pormenorizadas sobre cada obra. Os visitantes, que entendiam muito de belas-artes, ficaram surpresos com a profundidade dos seus conhecimentos e com a sua aguçada sensibilidade, expressa através da apreensão da essência das obras expostas. Essas explicações estavam baseadas no sentimento do Mestre Jinsai, o qual não se cansava de admirar o Belo, e na emoção que este lhe fazia afluir naturalmente. Sua alegria e seu entusiasmo irradiavam-se por todo o museu, e as pessoas passaram um dia alegre, concentradas na Arte.
[1] Secretário do Mestre Jinsai na época em que foi construído o Museu de Arte de Hakone.
Vista externa do Museu de Arte de Hakone na época de sua inauguração
Salas japonesas do segundo andar do Museu de Arte de Hakone
Vista externa do Museu de Hakone
Convite para a inauguração do Museu de Arte de Hakone. O Mestre Jinsai se apresenta como diretor do museu.
Nomes de pessoas convidadas para a inauguração do museu assinados na lista de presença
Artigos noticiando a inauguração do Museu de Arte de Hakone
Cartaz da exposição de ukiyo-e inaugurada no dia 1º de junho de 1953
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